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O BBB10 acabou

 

O Big Brother sempre funcionou pra mim como um dramalhão mexicano, como um grande teatro de dramas inventados. Sentimentos diversos se misturam nesse caldeirão de paixões sem paixão, pessoas simples mas envoltas em realidades falseadas, forçosamente criadas na espontaneidade de uma mistura imiscível.

No entanto, esta última edição do BBB10 trouxe um grande diferencial. Uma proposta de real mistura de cores, de ideias e sentimentos, quase beirando a realidade, porquanto somos iguais nas diferenças. A princípio, todas as edições pareciam extremamente dicromáticas, sem a intenção de retratar uma minoria- apesar de algumas  exceções- que  sempre foi parte da sociedade, mas nunca tratada dentro da sua própria diversidade. Pretensamente nos sentíamos representados por um professor intelectual, mas que não trazia no seu bojo a real dimensão da sexualidade em outras nuances menos heterocêntricas.  Estou falando de Serginho e Dicésar que retrataram coloridamente a diversidade dentro da diversidade, sem a talvez sublimação acadêmica do professor Jean e do, à época, bissexual, Marcelo. Por conseguinte, esta edição trouxe, sem mencionar  a participação da Morango (Angélica), uma aglutinação que não é assumidamente a representação da comunidade GLS em si, mas que definitivamente reflete a verdadeira definição da diferença. Em que pese a atuação e a praticipação, bem como a divulgação de suas ideias, o fato é que esta amostragem revelou para o Brasil que a diferença é muito mais de que um fundamento racional sobre a dicotomia hetero/homo. É uma questão de aceitação. E isso ficou bastante claro na edição BBB10, particulamente com o embate entre a heterossexualidade de Dourado, e a HUMANIDADE de Dícesar. Falo humanidade por que a expressividade maior deste participante foi sua diplomática – e não propalada falsidade- foi a maior virtude apagada, incompreendida, mas que saltava aos olhos dos que a conheciam e reconheciam.  Não a toa, Pedro Bial comparou a virtude de Dicésar na figura carismática e bondosa de Dorothy, do mágico de Oz, a qual procurou ajudar, lutando contra a Bruxa do Leste, para conseguir, não para si, mas para seus companheiros, coisas que para ela seriam sem importância, mas que fariam a grande difrença na vida dos outros. Acreditem, não foi uma comparação a toa, nem vã, tampouco representativa de alguma sensibilidade puramente gay.

Para mim- falo num tom bastante íntimo- O BBB10 acabou com a eliminção covarde do  Dicésar. E nem preciso explicar por que covarde.

Mas hoje, senti-me vitorioso pela eliminção de uma pessoa que aglutinou todas as vicissitudes de uma mulher que – em que pese suas necessidade pessoais para emprego do prêmio- aglutinou a falta da benesse de um poder intimamente espúrio, o poder da manipulação de almas fracas. Os poucos que resistiram a sua locura eram considerados por seus asseclas como falsos ou sem opiniões firmadas. Pura falácia política alucinógena que a pricípio dá o prazer, depois te toma de assaulto. E foi assim com o reinado de areia de Lia.

Gritei, pulei como alguém que tem sua alma lavada por uma verdade reveladora. Por um momento pensei que a máfia pudesse se importar com a reputção da participante Lia. Mas acho que sua antipatia não conquistou os seguidores do Professor Dourado. Por esta razão, as vozes da verdade e do voto representativo de cada cidadão  e não de um multirão, cujo expediente é finaciado por ociosos glutões e socialites sem propósito, senão de financiar estereótipos ultrapassados de um homem que não mais existe- por mais que eu seja simpatizante de uma coexistência multípla-  hodienarmente,  o que subisiste é o real e depretensioso direito da diversidade, no qual não resiste este padrão dourado-fálico-bruto-falso-politicamente-forçosamente-correto.

Nada mais a dizer, senão que estou de alma lavada pela vitória de Fernanda , a  saída de Lia e a anunciada-sem-graça-idiota-sem-mérito vitória do Dourado. O BBB10 acabou. Next!

A Single Man e Seu Direito de Amar pra sempre

 

  

 

Discordo com os que pensam se tratar de um filme gay sem apelos. “A Single Man” é um filme de amor, de um amor fiel e para sempre.

Colin Firth está esplendidamente comovente. O professor sisudo é no fundo um homem que sente as dores da ausência do companheiro perdido num acidente de carro. A rotina é uma luta constante contras as memórias e a lembrança nostálgica do companheiro amado.  Um amor puro e intenso, mas sem os excessos das atribulações dos romances ordinários. É maduro e poético.

O papel do professor de Literatura se assemelha- às avessas- ao do Professor Jonh Keating, vivido por Robin Willians que promovia um olhar de mudança sobre a conduta de seus alunos. Na verdade, George tem a mesma vontade de estimular seus alunos. Sua última aula promove um debate sobre o medo; o medo que temos de que coisas estranhas façam parte de nossa vida. Mas não teve coragem, talvez pelo mesmo conservadorismo enfrentado pelo Professor de Willians, de adentrar na questão da não-aceitação das minorias- os gays. Apenas, um único aluno entendeu o apelo do professor suicida. E assim, às avessas, este despertou no professor o gosto  para a vida. O diálogo primoroso sobre a vida, presente e futuro termina sobre as águas reveladoras de uma praia.

O suicídio é preparado meticulosamente. As cenas poéticas do afogamento do professor são angustiantes e dão reais impressões do que é sentir-se perdido, sem motivação. Mas a presença de Kenny,  o jovem revigorante, nos últimos instantes do professor George, trouxe-o a tona, podendo respirar e sentir novamente os calores da vida. A beleza intrigante do aluno trouxe vida ao Professor, desistindo do suicídio. Mas Jim, o parceiro amado, vivido pelo também talentoso Mathew Goode, não deixou que seu amor se acabasse nas mãos de outro amante. Assim, o que é bom do filme de Tom Ford, é a falta de obviedade.

Em direito de amar, a mensagem – além de muitas outras- na minha opinião, é a visão de que amor realmente não tem sexo, e sim, ele pode ser duradouro, monogâmico e eterno.

FUNDAÇÃO CULTURAL MONSENHOR CHAVES-FCMC/THE-PI DIVULGA RESULTADO DO CONCURSO LITERÁRIO NOVOS AUTORES 2009

Depois de vários meses de análise minuciosa, a Coordenação de Editoração e Literatura da Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves divulga o resultado do Concurso Novos Autores Edição 2009 e o Concurso de Contos Cidade de Teresina. No total, foram 14 obras contempladas pelos dois concursos.

O Concurso Literário Novos Autores – Prêmio Cidade de Teresina- contempla os talentos com a publicação de suas produções nas categorias Pesquisa Histórica sobre a Realidade Piauiense, Ficção, Poesia, Peça Teatral e Literatura Infantil.

Na categoria Pesquisa Histórica, o primeiro lugar ficou com a obra “Entre vaqueiros e fidalgos: Sociedade, política e educação no Piauí (1820-1850)”, de Marcelo de Sousa Neto. O segundo lugar foi “Desafiando o olhar de medusa: A modernização e os discursos modernizadores em Teresina nas duas primeiras décadas do século XX”, de Pedro Pio Fontineles Filho. O terceiro foi “A morte pelo olhar do poeta: Uma trajetória entre a vida e a morte no início do século XX em Teresina”, de Nercinda Pessoa da Silva Brito.

Na categoria Ficção, o primeiro colocado foi “História de finado Félix”, de Antonio de Pádua Oliveira da Silva. O segundo foi “Adeus a aleto”, de Roberto Muniz Dias, seguido de “Cavalgadas”, de Danielle Tocantins Moura Costa.

A categoria Poesia contemplou a obra “Passeio público”, de Ricardo dos Santos Batista, em primeiro lugar, seguido de “Objetos cortantes e outros brinquedos”, de Shenna Luíssa Motta Rocha.

As melhores obras na categoria Peça Teatral foram: “A viagem da mochila”, de Jean Pessoa do Nascimento. O segundo lugar ficou com “Meu nome é João Penúvem” de Lorena Campelo e Marina Marques.

A categoria Literatura Infantil premiou a obra “A palafita andante”, de Alexandre Gomes de Carvalho, em primeiro lugar, seguido de “O verdadeiro amigo”, de Deivison de Sousa Santos, e “O roubo do vento”, de Emanuely Silva Costa.

As obras classificadas em primeiro lugar em cada categoria terão publicados 1 mil exemplares pela Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves. Os segundos e terceiros classificados de cada categoria serão outorgados menção honrosa.

O Concurso de Contos Cidade de Teresina premiou apenas uma obra: “Memórias das dores”, de Glauber dos Santos Teixeira. O prêmio atribuído pelo Concurso será de R$ 1.000,00 e publicação do trabalho na Revista “Cadernos de Teresina” edição de nº. 43.

Os autores que se inscreveram nos concursos têm 60 dias a partir da divulgação do resultado para buscar suas obras junto a coordenação.

CATEGORIA PESQUISA HISTÓRICA:

1º Lugar: Obra: Entre vaqueiros e fidalgos: Sociedade, política e educação no Piauí (1820-1850) Autor: Marcelo de Sousa Neto

2º Lugar: Obra: Desafiando o olhar de medusa: A modernização e os discurso modernizadores em Teresina nas duas primeiras décadas do século XX. Autor: Pedro Pio Fontineles Filho

3º Lugar: Obra: A morte pelo olhar do poeta: Uma trajetória entre a vida e a morte no início do século XX em Teresina. Autora: Nercinda Pessoa da Silva Brito

Confira o resultado completo

CATEGORIA FICÇÃO:

1º Lugar: Obra: História de finado Félix. Autor: Antonio de Pádua Oliveira da Silva

2º Lugar: Adeus a aleto. Autor: Roberto Muniz Dias

(http://www.clubedeautores.com.br/book/12643–ADEUS_A_ALETO)

3º Lugar: Cavalgadas. Autora: Danielle Tocantins Moura Costa

Obras citadas: O resgate de Penélope, de Karolline Maria dos Santos Paiva, e Tudo ao seu tempo, de Ana Maria Oliveira Cunha

CATEGORIA POESIA:

1º Lugar: Obra: Passeio público. Autor: Ricardo dos Santos Batista

2º Lugar: Obra: Objetos cortantes e outros brinquedos. Autor: Shenna Luíssa Motta Rocha

Obras citadas: Conde do sol e lobotomia, de Isaque de Moura Gonçalves Neto, Meia faces de Lilin, de Elizabeth Carvalho Medeiros e Bicho home, de Rafael de Sousa Franco

CATEGORIA PEÇA TEATRAL:

1º Lugar: Obra: A viagem da mochila. Autor: Jean Pessoa do Nascimento

2º Lugar: Obra: Meu nome é João Penúvem. Autor: Lorena Campelo e Marina Marques

CATEGORIA LITERATURA INFANTIL

1º Lugar: Obra: A palafita andante. Autor: Alexandre Gomes de Carvalho

2º Lugar: Obra: O verdadeiro amigo. Autor: Deivison de Sousa Santos

3º Lugar: Obra: O roubo do vento. Autora: Emanuely Silva Costa

RESULTADO DO CONCURSO DE CONTOS CIDADE DE TERESINA EDIÇÃO/2009

1º Lugar: Memórias das dores – de Glauber dos Santos Teixeira

NÃO HOUVE PREMIAÇÃO PARA SEGUNDO E TERCEIRO LUGARES.

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Onde está minha sabedoria?( Where's my Wisdom?)

fevereiro 28, 2010 2 comentários

Estou a procura da sabedoria- busca essa que não tem mais volta-  que está nos outros e cujo empréstimo é compulsório.

(I am looking for  the Wisdom- this searching has no turn back-  which is within the others and this borrowing is an obligation.

Faço anotações e tento decorar – sob clara indicação epifânica- o poema forte, que deve ser lido à exaustão e momorizado como arma ( escolhi Animais, de Walt Whitman).

I write down and try to memorize- under clear indication tha is a call- the strong poem, that must be read until exaustion and memorized like a weapon ( I choose Animals, from Whitman’s)

Encho-me de enredo alheio para que consiga confeccionar algo de valor inédito- trabalho vão-, algo que possa autorizar ser meu.

I filled myself of someone else’s plot in order to make up something new- worthless job- , something that can be regonized mine.

Rasgo, amasso, deleto são ações que pratico com frequência nesse mister adquirido, novo, desafiador e ardiloso capricho de meu

ser.

I tear , I  fold, I delete these are the action that I handle with, daily, in this new-chalenging- harmful caprice- acquired job of my own.

Where’s my wisdom?

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A única entrevista de Clarice

fevereiro 28, 2010 2 comentários

É difícil essa definição  do que sinto agora. Ter visto Clarice falada, falando, falando de si, foi  muito estranho. Ela fuma, pausa,pensa nas palavras que vêm simples e sem escolha. Está morta, não se autodenomina escritora profissional. Quando do sucesso de seus livros ela não se deu conta de sua importância.

Ela olha com olhar de um criminoso: pensativa e fria. Mas ela mesma disse que estava morta. Ela fala com dificuldade, com sotaque de nordestino, misturado com um ar aristocrático europeu. Ela fala de si com um grande arrependimento como se o fato de escrever fosse sua própria clausura.

Mas ela é cômica e cheia de vida ao mesmo tempo. Mãos calejadas e espírito subversivo. Ela é tímida e ousada. Mas me assustou  de forma iluminadora. Talvez uma empatia de reflexo refletido.

LIVRO PREMIADO

ADEUS A ALETO nasceu premiado.

Recebeu Menção Honrosa ( 2º Lugar) no Concurso Literário Novos Autores 2009 promovido pela FUNDAÇÃO CULTURAL

MONSENHOR CHAVES/ FCMC- Teresina- PI.

 

Uma leitura enriquecedora

            Uma ida despretensiosa ao shopping, bem da verdade, outras intenções havia sido conjecturadas, quiçá uma camisa nova;  um encontro as escuras; talvez um café com “muffin”. Então a livraria Leitura no meio do caminho de algumas possibilidades extras. Aproveitei para por em dia a lista de livros que ainda não lera- a lista inspiradora. Olhos perdidos na multidão de prateleiras cheios de livros, olhos ávidos; ouvidos atentos aos comentários perdidos, às solicitações de alguns clientes, as idas e vindas de pessoas multifacetadas.

            Nesta confusão, dois senhores conversavam acaloradamente acerca de um escritor. Ele abria o livro de forma intensa como se soubesse que ele responderia sua solitação. Esse senhor tinha barba cheia, branca, a voz rouca cheia de vida e propriedade. Falava-se em poesia premonitória que anunciava a morte prematura de um dos mais promissores poetas do Brasil. Jovem crítico e intenso propalador da arte como pedagogia. “Como é o nome da poesia de tom premonitório?”- ele perguntava em tom quase provocativo. Digo provocativo, porque parecia que a pergunta incitava a participação de algum dos freqüentadores. E eu já havia passado duas vezes pelo corredor onde os dois homens conversavam intensamente. Então, não resisti a nova requisição do senhor curioso: “alguma-coisa-assassina…”- ele falava, abria o livro, tentando encontrar a página. Falei que seria a poesia intitulada: O mês presente…

“Sinto que o mês presente me assassina,
Os derradeiros astros nascem tortos
E o tempo na verdade tem domínio
Sobre o morto que enterra os próprios mortos. “

            E completei que era de um conterrâneo, apontado para o livro de Mário Faustino. E o senhor de barba branca meneou a cabeça, confirmando e afirmando se tratar exatamente desta poesia. Fiz minha última participação saindo com um sorriso que misturava timidez e vontade intromissora. Queria estar no meio da conversa deles. E o senhor de barba histórica continuava a falar com sua voz rouca e mãos antenadas, parecia reverberar todo seu conhecimento acerca dos livros, das poesias.

          Fiquei de longe a observá-los e ainda sem perder de foco minha listinha particular.  Deveria ver Tchecov, Francine o creditava muito da sua inspiração; das suas aulas. E eu recém-nomeado escritor me impunha certa disciplina, certa administração da nova carreira. Dei várias voltas em torno da prateleira Literatura, cerquei os livros sem perder os nobres senhores. Rodei mais uma vez em torno da mesma prateleira. Perdi a audição da voz rouca, a distância de seu convencimento aumentava; perdi-me no conto a dama do cachorrinho. Deixei a revista, Martha Medeiros e Tostói no colo. “Olha… ótima escolha a sua.”- o outro senhor apontara para meus livros escolhidos. Falei que era uma lista antiga, débito que carreguei até hoje, indicação da Francine.

            “Qual sua formação?” – perguntou o outro senhor de traços mais finos. Respondi prontamente que tinha a mesma formação de Clarice; talvez a mesma de Caio. Só não tinha o prestígio dos mesmos. “É um intelectual”- afirmou ele com a voz rouca. E completou, apontando para o amigo: “Você está em ótima companhia. Vou deixá-los conversando.” Saiu se despedindo do amigo.  Tratava-se de um jornalista. Companhia rara pra mim. Coisa que nunca acontecera em tanto tempo neste começo de alguma coisa. Era raro mesmo. Tanto que já não sabia o que dizer diante de uma pessoa com tanto conhecimento. Acho que pressentindo meu nervosismo, ele me convidou para um café. Concordei instantaneamente. Dobrei os pockets envoltos na revista e acompanhei-o até o café mais próximo. Passei com os livros dobrados cabendo numa única mão. Os olhos compenetrados na fala macia e mansa do jornalista. Prestava atenção em cada palavra. Pensava duas vezes em velocidade altamente rápida para responder-lhe sem erros. E sobre o erro, estava eu com os livros na mão. Réu confesso, com os livros na mão. Livros não-pagos, não detectados pelo sistema de anti-furtos. Apenas meu senso de honestidade operou neste momento.

            Mas o café era imediato, o pagamento justo ficaria pra depois. Estava ansioso para conversar, falar de mim talvez, ouvir sobre os outros, os clássicos.

            Eu queria ter um gravador. Senti-me um jornalista, mas sem lista de perguntas. Ele poderia falar do próprio roteiro; das memórias. Suas memórias sobre a passagem pela ditadura, pela redemocratização. Então, saltamos para a literatura que era para quem estava atualmente a serviço. E isto me enchia os olhos. Falar sobre literatura me dava mais paixão. Enquanto isso, o café não parecia ter fim. Adoçava-o tentando pensando nas palavras, o que dizer, o que ratificar. Mas não havia como confirmar certas histórias que apenas ele havia vivido. “Espero o dia em nascerá um novo Balzac.”- ele falou em tom confessório. Falou dos novos apelos para a literatura (com l minísculo)-pop-comercial-capitalista-vampirística e da falta das influências dos clássicos. E disso poderia falar algo, ilustrando a existência da grande estante com os livros de meu pai. Seus livros grossos, volumosos e russos. Os Russos eram a paixão de meu Pai: Tostói, Tchecov, Gogol, Dostoievsky. E eram todos parte da minha lista tributária; minha pequena frustração. E então os brasileiros. Falei de Torquato Neto. Que felicidade em saber que ele conheceu Torquato de perto. Falou com elogios a cultura tão apurada em homem tão novo, mas com tristeza falou da entrega as drogas. Para ele os escritores eram excêntricos; alguns meio loucos. Clarice era louca: “depois de Laços de família Clarice não era mais a mesma.”- ele falou como se a conhecesse dentro das entrelinhas da incompreensão. Ela mesma não se definia.

            E o café terminou com um gosto de tertúlia-pedagógica, com sabor de aula-show, ou como uma grande conversa amistosa.

            Trocamos e-mails e blogs; trocamos idéias e me enchi de esperança querendo reviver ou viver aquelas emoções de pequenos furtos. No entanto, o furto maior foi de ter saído com as mãos não somente cheia de Tostói ou Tchecov, talvez a riqueza maior tenha sido sair daquela conversa com o ânimo cheio de  mil livros e histórias na cabeça.

 

P. S.: Depois do êxtase da conversa, voltei para pagar os livros que havia escolhido.

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Precious

 

A preciosidade de Precious me iluminou em vários pontos

De tantos doces “takes” chorei

Em que medida uma história não se emenda em contos?

Entre mim e Claireece várias partes encontrei

Assim como precious tive de criar um pequeno sonho

Um, dois…nem mesmo sei como criei

Criamos pequenos filhos fora de um lar- meu pequeno Bob

Noutro ambiente, externo, uma obra para iniciar

Aprender a ler sem medo, sem o entendimento do amor

Então, as duras cenas,  o abuso do mais forte; o lar-amargo-lar

A promessa de ser uma “star”

*****

Mas quando o pesadelo vai acabar?

Mais um filho o genitor fez rebentar

Não existe o devido cuidado

A mãe- a velha e a rosa-, uma atriz; a avô meretriz da verdade – a verba da assistência

E a preciosa sutileza da atriz Preciosa

Uma ajuda externa nada providencial

*****

Mas num sonho- tomada incial- a fada madrinha

A mão amiga do casal que não faz mal

O ninho acolheu o pesado fardo juvenil

Sem preconceito, com carinho e calor mais que fraternal.

****

O ABC e o mais sincero desejo de encontrar a luz do túnel interna

O filho, a filha e verdadeiros sentimentos- a mãe natural

Paro e penso nesse estranhamento

Que me causa dor

****

Então, um-dia-na-praia ( a day at the shore)

A leitura perfeita para os primeiros passos

… o confronto, a televisão quebrada e a alma lavada

A vida nova , a amizade e as frases completas

Mais três letrinhas quase mortíferas…

Mas a assunção da realidade

E três almas vivas: Mongo, Abdul e a mãe Preciosa.

O primeiro Romance a gente nunca esquece

 O  primeiro Romance

de Roberto Muniz Dias.

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 Adeus a Aleto é:

SEXO COM AMOR:

        ” … Continuou dentro de mim como se pudesse me levar para outro mundo. Não conseguia olhar em outra direção seu corpo forçava contra o meu na medição de forças mais pacífica que podia existir. E não havia interstícios, pois sua vontade era a minha. Sentia-o cada vez mais forte e maior, como se seu sangue avolumasse a cada minuto seu sexo dentro de mim. Começou a parar e sentir-me provocá-lo; apertava-o como se chamasse a atenção para que não parasse. Por seu turno, fazia isso para sentir um pouco mais de minha vontade; se era de sim ou de não. Mas não havia dor naquele instante.  Pegava-me como se eu tivesse intenção de desistir; puxava-me contra seu corpo para que eu sentisse senão a verdade. Ele não parava e não parava de me olhar… “

SEXO SEM AMOR:

”             Ato I Cena II

            O Sodomizador entra em cena. Completamente nu, um corpulento homenzarrão negro adentra vestido com peças de couro por sobre o peito e uma argola em volta de seu pênis ereto.

            Sodomizador- “Vamos brincar meus gatinhos”. Retira um líquido preso as ligas na cintura e começa a lambuzar seu dedo médio. Começou a enfiar o dedo nos anus do sodomita da esquerda.

            Domintarix- “Mais, quero mais. Coloque sua mão”. Então o obediente servo colocou mais gel em torno de sua mão e braço e outra parte colocou sobre seu imenso falo duro.”

INGENUIDADE:

” Corríamos, descíamos as escadas como qualquer criança feliz poderia descer: aos saltos; pulos, escorregando pelo corrimão. Não sabia mensurar quão velho estava para pensar que fazíamos uma traquinagem; tampouco desconhecia o quão jovens éramos para poder aventurar a se permitir. Descer assim tinha a ver com certa renúncia; aceitar uma condição de agora, nova e deixar pra trás algumas marcas que o tempo queria mostrar indeléveis. Mas naquele momento apenas havia a felicidade de qualquer coisa menos do que nossa constatação de o tempo ser algum empecilho. Éramos apenas duas pessoas saindo de seus mundos, deixando a irresponsabilidade como maior legado para a geração dos homens que ficaram para trás. “

LOUCURA:

” Tentei esmurrá-lo. Esmurrei o ar. Esmurrei o espelho. O sangue espesso e escuro começou a verter de meu pulso. Espalhava-se por entre os espaços brancos da camisa, pingando sobre a pia. Me veio uma dor forte como revelando um profundo corte em meu pulso. A dor me causou um torpor mortal.

          Apertei meu braço e o sangue parou rapidamente. Amarrei a tolha em torno do braço. Quis fazer um curativo, mas uma letargia tomou meu corpo de conta. Adormeci. “

 

       Mais detalhes clique no link abaixo:

http://www.clubedeautores.com.br/book/12643–ADEUS_A_ALETO

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AMOR SEM ESCALAS…SEM FINAL FELIZ

Não vou falar das expectativas deste filme sob a perspectiva de ele ter  sido feito pelo mesmo diretor de Juno. Não  assisti a este último, mas tenho que confessar  Jason Reitman tratou com maturidade seu novo filme, distanciando-se da proposta anterior.

Clooney não emprestou seu lado Don Juan neste novo filme. Ele convence no seu papel de solteiro convicto, exaltando as benesses da vida sem família e preocupações com fidelidade. A não ser que seu interesse fosse na lealdade para a Compania Aérea, para atingir as famigeradas 10 milhões de milhas.

 A visão é atual, dos EUA no período da grande crise da bolha imobiliária. E nesta perspectiva nefasta,  George Clooney, além de suas palestras motivadoras- que, em resumo, apregoam uma filosofia do “my world is my oyster”-, ele tem a incumbência de demitir funcionários de diversas empresas.  A missão é ingrata, mas ele se mostra bastante hábil com o mister.

Cloney é Ryan Bingham solteirão convicto avesso ao casamento, crianças e monogamia. Suas palestras revelam uma filosofia misantrópica criada sob a prática de uma vida de autossuficiência. Assim, encrespado sob essa couraça filosófica denominada “Empty Bagback” fica fácil desempenhar seu trabalho.

Enquanto isso, Ryan vive sua rotina de cidade em cidade, promovendo palestras e demissões num ritmo frenético. Mas ele parece acostumado com sua vida de endereço incerto. Numa passagem do filme, ele revela que passou 322 dias viajando, e que passou quase 40 dias infelizes em casa. 

No entanto essa rotina sofre um ligeiro abalo com a intervenção de uma nova funcionária que trouxe a facilidade da teleconferência para as demissões. Gastos e desgastes com viagens seriam reduzidos. Mas isto provocou mudança na maneira contraditoriamente humana com a qual as demissões eram feitas. Sem a figura de Ryan, as demissões pareciam mais contundentes.  Há uma cena na qual a idealizadora dessa inovação, participa de uma das demissões que, mais tarde, resultou no suicídio de uma dessas pessoas demitidas.

A atuação de Cloney nos convence de que, em pese todas as adversidades deste trabalho ingrato, se sente feliz com suas convicções filosóficas. No entanto, sua rotina parece sair do seu ritmo normal nos encontros não mais fortuitos com Alex ( Vera Farmiga) e o pedido esdrúxulo da irmã. É neste contato com a irmã, que está se casando, que Ryan se vê obrigado a salvar o casamento da irmã aconselhando, a contragosto, o cunhado a não desistir do casamento.  

De volta a sua rotina, e de volta a sua casa ele tem uma visão epifânica sobre sua condição de solteiro. E durante uma palestra sobre sua filosofia “Empty Bagpack”, não consegue mais dissertar sobre sua ideia fajuta, e em desespero deixa a platéia e segue em tresloucado destino a Alex. Mas acaba descobrindo que a vida que levava com Alex fazia parte de um outro mundo. Alex era uma mulher casada e com filhos. A decepção é destruidora.

O filme inicia com várias imagens aéreas, especialmente de nuvens, provavelmente em fotos capturadas através de janelas de aviões. A música de fundo fala sobre a terra ( em sentido de lugar) pertencer a  quem canta, a quem ouve,  pode ser Nova York, California, etc. Alusões ao fato de termos o senso de pertencimento a família, aos amigos, a terra em si. Toda essa composição se complementa, no final, com a assunção de que Ryan – narrando sua atual condição – é uma estrela: “ Numa casa em que a famílias olham pro seu, sou luz num céu estrelado, mas, na realidade,  a indicação dessa luz estrelar é apenas a lâmpada de uma das asas de um avião onde estou.”

A experiência de Sr. Guy Ritchie

A experiência de Sr. Guy Ritchie

Não dá para não comparar o pastiche de sua própria obra, pois em Sherlock Holmes, Guy Ritchie revive cenas de um de seus filmes, Clube de luta, claramente. E ao ver Mr. Holmes lutando feito Bruce Lee em seu estilo marcial bêbedo-palhaço, fez-me recordar que realmente nada é novo. Tudo se reinventa e se mistura.

O Mr. Holmes de Guy vai se parecer com o clássico de Sr. Arthur Conan Doyle nas cenas de meticulosa e apurada descrição dos golpes a serem articulados. As cenas antecipam suas investidas, explicando com toques sarcásticos os resultados advindos. Então a cena é liberada em seu ritmo normal, revelando um recurso simples, mas que dá um charme na composição do personagem que Guy sequer quis saber através dos Cães de Baskeville, por exemplo.

Fui ao cinema observar um trabalho sem fundamento na obra do próprio criador- confessadamente Guy disse não ter lido nada de Doyle. Mas reconheço que, em que pese a falta de referências mais óbvias, todo o clima de mistério e suspense foi accomplished  no final do filme, quando os traços deixados por Lord Blackwood começaram a sair do plano mágico-metafísico, para as explanações bastante científicas  do competente Mr. Holmes.

Depois dos relatos de Robert Downey Jr. acerca do Holmes de Guy Ritchie, sou levado a acreditar que no mínimo seu Holmes é avesso a mulheres. Fica a impressão de um homem frio, cômico e sarcástico; refreando o enlace de Watson e Mary- por ciúmes, talvez- e se esquivando de uma  sedutora mulher. Devo confessar que ficou no ar esta sugestão que Robert Downey Jr soube bem capturar- transpassar-, atuando como o Holmes de Guy Ritchie.

WHERE IS THE 'ART'?

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A mais recente pintura em tela

CÓPIA MAL-ACABADA DE MINHA ÚLTIMA PINTURA EM TELA.

RESULTADO DE DIVAGAÇÕES INTERNAS SOBRE O PROCESSO CRIATIVO.

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Avatar 3D

A experiência 3D de Avatar foi triplamente decepcionante.  Algumas samambaias pude alcançar. O plano em três dimensões já havia visto. Pensei que se tratasse de algo surreal.

Nada demais. James poderia ter abusado disto nos monstros, nas cenas de voo. Mas de nada pude aproveitar. Nenhum comentário a mais.

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AVATAR

 

 

 

 

 

O enredo de Avatar não parece ser novo. É a velha história contada sob o ponto de vista do oprimido e do opressor; do conquistado e do conquistador, com a premissa de que o julgo do mais racional e civilizado é sempre o mais benéfico; aquela visão capitalista de empreendedorismo que se furta de suas responsabilidades ambientais e sociais. Longe de ser uma utopia; os Na’vi vivem em completa harmonia com Gaya- ou devo dizer Eywa?-, abrindo a discussão para outro tema: o misticismo, como forma ainda primitiva para a explicação da coisas. Mas será mesmo o julgo do civilizado; ou o “povo do céu” o mais salutar? Serão os Na’vi os iraquianos disfarçados de uma civilização menosprezada; e o povo do céu uma imitação fidedigna do outrora Grandeur Estados Unidos? Tais assunções não são tão difíceis de serem percebidas. Avatar é uma ode à vida em harmonia, a despeito de cultura, misticismo, evolução genética, ou quaisquer outros assuntos. É um tratado de armistício entre o Homem e a Natureza, no qual as relações parecem mais simbióticas do que imaginamos.

Poderia ser uma releitura da tecnologia digital, reinterpretando os clássicos românticos. Porque Avatar é uma historia de amor; não há duvida disto. Nada é novo, como disse algum sábio escritor. Romeu e Julieta são a base para a esta história de amor; o ideal romântico, o as novelas de cavalaria: o mocinho, o bandido… Um ritual de passagem; ou de aceitação remonta o ideal do macho pronto para entrar na vida adulta. Jake, vivido em seu avatar, consegue a destreza de domar uma espécie de grande pterodátilo; realizando um trabalho quase hercúleo.  Enfim, uma plêiade de aventuras recontadas e misturadas numa ficção de alta qualidade tecnológica. Avatar é uma história de amor porque também faz chorar.

E num filme que prima pela qualidade das imagens, falar –  ou escrever sobre-, torna-se mero diletantismo.

A primeira ópera de Rufus

Quando Rufus esteve aqui em Brasília, senti de perto toda a potência de sua voz e fiquei realmente impressionado com sua presença de palco. E lá estava eu gritando: Cigarrette and Chocolate Milk. Pedi que cantasse. Ele cabisbaixo, ouvindo minha voz no meio daquela plateia silenciosa, de repente, começou a cantá-la. Fiquei lisonjeado.

Tenho acompanhado a carreira dele e me surpreendi com Release the Stars, especialmente com algumas canções bastante expressivas. ” I am going to a town”; “‘Sanssouci” e “Nobody’ off the hook” chamaram minha atenção. Adoro sua voz e sua rima inusitada, mencionado coisas simples da vida de forma ingênua; momentos de nostalgia pueril; a própria vida e o fato de viver abertamente e livremente sua vida gay- ou pelo menos seus momentos gays.  E isso tornava-a mais atrativa para mim, porque poderia cantarolar músicas que falassem de sentimentos mais específicos, ainda que ele falasse da pegação nos parques, ou de amizades incomuns.

Rufus me surpreendeu com sua voz suave e ao mesmo tempo poderosa, fazendo dele e seu piano uma coisa além do que conhecemos. E quando de sua performance visualizei um artista em perfeita harmonia com sua arte. Ele é definitivamente um artista de impressionante talente.

E, agora, ele aparece depois de algum tempo esquecido, com a finalização de seu projeto maior que é a opera PRIMA  DONNA eu pensei- confesso- que ele não conseguiria. Mas está aí; prova de todos para julgamento de sua arte e de seu talento.

Vê-lo neste video me deixa ainda mais adimirado com seu trabalho e sua música. Espero poder ver  Prima Donna em breve.

Bon appetit!

O que mais desejei, quando comecei este blog, foi a resposta de meus leitores. Hoje sei que são muitos, mesmo que diariamente um ou dois o leiam. Mas cada comentário era aguardado e celebrado. E a primeira emoção que senti, quando assisti a Julie & Julia, foi a mesma da escritora Julie Powell- ainda que fosse um comentário depreciativo.

É assim que começa o filme: a esperança de enfrentar o novo sem medo dos desafios. A estória não é nova. A mudança de ares e da rotina faz com que duas mulheres mudem suas perspectivas, enfrentando os pequenos percalços que se avizinham.  Julia faz de sua vida errante de esposa de uma espécie de adido cultural dos EUA, o terreno prefeito para conhecer a culinária francesa quando da passagem deles por Paris. Enquanto isso, Julie queria dar rumo a sua vida monótona- embora seus marido fossem dedicados e carinhosos. E nesse contexto, vivido entre as memórias de Julia Child e as intempéries da frustrada escritora e funcionária pública, Julie Powell, que se desenrola e se entrelaçam essas fascinantes histórias.

Julie & Julia é um filme sobre persistência e força de vontade. A princípio, essas mulheres poderiam viver suas vidas de dona de casa sem qualquer reclamação de seus companheiros. Cada uma com suas particularidades domésticas. Julia mudou-se para Paris acompanhando seu marido e Julie mudou-se para o Queens para morar num lugar maior e mais próximo do trabalho do marido. Tais particularidades tornavam ainda mais desestimulantes as vidas das protagonistas. Mas é justamente o senso de pertencer à mesmice que as faz mudarem de rotinas, buscando lá no fundo, seus reais potenciais. Uma busca que, às vezes, para nós, que estamos fora dessas epifanias, parece difícil; no entanto, são tão claras quanto a magia da vida. Resta-nos apenas não se deixar oprimir pelo novo; talvez ouvir a um chamado interno e, além disso, incorporar a si mesmo.

Saber de si as verdades que nos enchem de alegria; aqui, no caso, como comer e cozinhar e amar os maridos de forma plena, conjugando todos os interesses. Simples, mas mágico como os temperos que dão sabor às comidas; mesmo que seja uma nova maneira de se cozinhar um simples ovo.

As metas em vida também são o grande aprendizado do filme; ou a notória lição de moral; ou aquele friozinho ou o estranhamento que se causa quando assistimos ao filme em questão. Meryl Streep incorpora brilhantemente a grandona cozinheira Julia Child e sua fascinante caricatura de glutona e boa esposa. Julie & Julia é uma linda história recheada de temperos vivos e multicolores que dão estímulos e sabores as nossas vidas simples.

Abraços Partidos

Personagens verdadeiramente viscerais, apaixonadas pelas suas vidas simples e intensas.

A lágrima sobre o tomate cheio de vida revela a marca registrada da carga surreal de Almodóvar. Impagável essa cena metalingüística do filme dentro do filme.  Desnecessário comentar a cena final na qual Mateo – ou Hurry Caine, ou Hurricane-, tenta “ver” e sentir com seus dedos a última emoção de sua amada antes da morte. Cena simples, mas repleta de significância sensorial.

E Penélope Cruz que empresta beleza, emoção e simpatia para a personagem Lena. Uma das poucas atrizes que desnuda seu corpo e sua alma de forma simultânea; e quando o faz, não se torna vulgar. Entrega-se ao personagem e nos apaixona.

Abraços Partidos é uma inventiva narrativa no campo do amor passional e mais contundente: aquele cheio de intensidade, ciúmes, paixão e morte.

Não somente por conta da atuação de Cruz, mas dos outros personagens que empregam suor e expressão corporal para atuar em seus papeis mais do que coadjuvantes.

E como mais clichê usado em finais de filme: vale a pena ver Abraços Partidos porque mais vale uma imagem do que mil palavras.

De volta aos concursos literários.

Este pequeno texto participou da seletiva de um concurso promovido  pela Revista BRAVO. Infelizmente, não logrei êxito; no entanto, divido com você meu interesse pela obra de Arenas.


Responda a pergunta:Qual história real de guerra você conhece?

” Os originais, não sabia onde colocá-los. Pensou em destruí-los, pensou na prisão. Mas ele viu o telhado. Subiu na cadeira e colocou-os debaixo das telhas carcomidas. Escondeu-os, mas sabia que da França eles partiriam para o mundo. Sua história, sua vida revelados. A perseguição era ideológica, era a guerra de idéias. O Estado o considerou um revolucionário; gay; um poeta, um escritor. Sua luta não era somente em ser aceito; havia uma dimensão contestatória do sistema castrista. Sendo assim, as tertúlias eram proibidas- malfadadas reuniões conspiratórias. Mas a sua luta era mais complexa, mais longínqua; tinha a ver com seu sexo, com sua libido. Por não acreditar nos ideais vindouros da revolução cubana –antidemocráticos-, viu-se preso, torturado por uma guerra que não o entendia. Arenas muda o nome. Persona non grata e gay. Foge da prisão física. Liberta-se. Publica seus levantes, mas a vida lhe aprisiona na impossibilidade imortalidade. A AIDS lhe sentecia a morte ANTES QUE ANOITEÇA.

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The way it used to be

Hoje chorei bastante porque não me restava a alternativa de uma faca ao peito. Pois dói as duas coisas contundentemente pelo fato de subsistir o amor.  – Mas como canto esse amor em rimas de dor?- pergunto sem a menos intencionar um diálogo. Sou eu apenas. Talvez tenha a ver com culpa, mas de nada ela serve; só empresta um falso fundamento a tudo que quero dizer. E ainda não consigo dizer nada porque como posso falar de amor se desisti de tudo; de toda a segurança do amor; de toda a retribuição que possa existir. E insisto que não é um diálogo. Porque não quero suas respostas, caro amigo. Apenas desabafo com o peito ainda em soluço pueril, olhos vermelhos e revolta indigna.

“As coisas como estavam” é assim que a música repete e de quem mais gosto que me entende ao ponto de caber como luva, sem importar a distância e ignorar-me por completo. Mas é nisto que está a magia da boa música. “Then and there my life made sense, you were the evidence”, mas se não for apenas esse momento de arrependimento, os outros de putaria me dão outro sentido de vida, até que encontre de novo o vazio das noites chuvosas de domingo. Deixo a dor se repetir e a rima encravar-se como a faca que não existe.

Tento cantar mais triste; mudo o tom para secar as lágrimas e ainda continuo o mesmo. Mas o tempo vai passando. Troco as músicas e elas começam a falar de outras coisas mais cinzas, mais tristes. Ainda assim, detenho-me na letra confusa e na indecisão de meus sentimentos. Tudo para entender esse novo sentimento de tempo passado e vejo que as lágrimas secaram e os olhos requerem um pouco de vinho na garganta. – Será que o ritmo se repete?

Parei de escrever porque ainda procuro ressignificar algumas coisas, pois tudo era dois de alguma forma estranhamente harmoniosa; depois vieram três; depois quatro e de alguma forma a desarmonia se fez. Mas então, tem-se a saudade das coisas dividas e especialmente aquele abraço bem antes de o sono vir. E vêm as músicas tristes, e o choro desandou. Nada proposital. E por mais que nos sentimos fortes, as lágrimas são frágeis, tolas, fracas e caem. E sem faca, e sem soluções, nem soluços agora, continuo a escrever e sentir que certa forma a dor recrudesce naturalmente. Seja lá qual for o tipo de dor.

16 de outubro de 2009

É um leve desespero; o mesmo que enche o peito do suicida

É doce também como última colherada provando o sabor das coisas

E ainda assim parece com todo tipo de assunção de crime, qualquer um

Mas a noite passa da mesma forma que a música acabou

É um convite às avessas para continuar a empreender o edifício

Desisto do arquiteto, do fundamento, da obra final…

Vem a semente e edifica tudo, verdes, plantas, edifícios

Quem precisa de medidas para as coisas?

O arquiteto não inventou a felicidade apenas a obra

Não há nada de divino nesta busca de complemento

É um leve desespero que aumenta quando se acaricia

E quando existe não há quem administre

É doce como o último momento de duas sombras

Mas agora é apenas uma alma vagando pelas ruas.

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Azadas palavras do momento

Do rodopio de antes, dei um passo para trás. Não havia mais dúvidas. Daquela caixa de mágicas, não poderia mais sair felicidade. É pura a falta de senso, de rumo. É assim que sinto seguindo meus passos para trás. Não há como intervir, não há mãos, preces, milagres. Não olho para o caminho que ficou nas costas.

Administro a culpa católica de ver pecado na devassidão, na boemia, na cachaçaria de minha solteirice. São apenas fases- todos já viveram e visitaram as paredes úmidas do poço. Todos gritaram de lá, ecoando a solidão; e ainda assim percorreram seus caminhos. Sem culpa. Apenas como o estágio necessário. É necessário.

O ócio do pensamento ativo dá uma conotação de senso perdido. Porém nunca andei tanto com meu carro; pra cima e pra baixo, adquirindo certo conhecimento da natureza. Banho de sol sozinho. Talvez uma manhã irresponsável, sem nenhuma obrigação da parceria. Mas não é o que me dá o tesão de agora. São tantas outras besteirinhas. Sou forte. Sou bonito dentro do meu esconderijo. E tudo aquilo que um flerte dividido sem culpa, nem obrigação, senão do sorriso de um gozo contido. Nada mais. Podem, depois, vir os braços, as pernas…

Eu era um estorvo removível, que de pronto, por minha própria vontade, retirei-me de uma trilha linda cheia de tulipas verdes e violetas. Como no quadro pintado repleto de história comum. E então, saí como a tinta que retira uma ou duas tulipas. Elas se vão e ainda assim subsiste a beleza do inteiro. Sou inteiro na metade que me cabe e na falta que me complementa. E, por incrível que pareça, desisti desta completude filosófica. Estou somente eu e meus caminhos, com tudo que vier pelas estradas coloridas.

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FLASH MOB Pet Shop Boys 11th October 2009, Brasília-DF

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Take a white t-shirt and put on it the name of a PSB’s Album or a piece of your favourite lyric and then  put  on the tee at the Pandemonium Show tour in Brasília-DF, 11th October 2009. Say yes to this message.

Pegue uma camiseta branca e coloque uma estampa com o nome de um álbum do Pet Shop Boys ou uma sua  música favorita e use-a no Show da PANDEMONIUM on Tour dos Pet Shop Boys no dia 11 de Outubro de 2009 no Marina Hall , Brasília- DF.

Countdown to PSB show

I am anxious to the PANDEMONIUM  show. I’ve just got my tickets.

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MAGPIE- a pintura de um homem sozinho

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Ele voltou como se percorresse o caminho da tela. Parecia tudo ter o mesmo tom solitário, enquanto caminhava pensando um pouco no estrago do vinho, pensava um pouco em sua amiga. E por um momento, pensava em desculpas. No entanto, era tarde para pensar como ficara a obra final. Deveria haver um pouco de vida naquela tela. – Talvez ela me agradeça mais tarde- pensou enquanto chutava as pedrinhas do caminho. E era o caminho de casa. Ele coincidia com o caminho na pintura de forma fiel. – Eu posso sentir o mesmo cheiro quando toquei as tintas- ele falou sorvendo o ar enquanto o vento o atingia.

 

[…]

 

– O que podemos fazer de nós dois aqui ainda ébrios?- perguntou sem saber o que estava perguntando. O tempo ali dividido, enquanto o álcool solicitava algo incompreensível, fazia surgir um sentimento agora de repulsa. Acomodou novamente a perna, retirando a do outro vagarosamente. – O álcool definitivamente deixa as pessoas bonitas- ele pensava consigo. E muitos outros pensamentos estavam vindo à tona por conta de sua desilusão com a feiura das pessoas. Mas subsistia a beleza das estrelas e o que poderia ser dito.  E ele se deleitou com o colóquio sobre os mesmos medos acerca das estrelas. E por esta razão sua timidez o obrigava a voltar atrás e sentir-se amedrontado com toda aquela situação. Tentou silenciar-se, mas o outro disparou em histórias mais complicadas como: luar, intimidade, amor. – Amor!- pensou alto. Não queria ouvir sobre essas coisas. Ter saído do caminho de tijolos; ter saído de casa em direção a multidão; ter entrado em contato com pessoas; tudo isto havia o tornado numa experiência não pensada; nunca imaginada. Era um desafio. Era uma indireta de sua melhor amiga. Mas, afinal, estava ali em contato com outro de sua espécie. – O que mais poderia exigir-se?- perguntou-se como vitorioso.

 

Continua…

 

O que você está achando da história?

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MAGPIE- a pintura de um homem sozinho

teste1 Capítulo 1

Tímida Luz

            Colocou a cabeça sobre as pernas dele e começou a pensar no peso dos astros pensou na estrelas que cintilavam brancas  se tinham peso menor do que as vermelhas; e os sóis? O sol deveria ter mais peso do que as pequenas estrelas. Pensou nas pequenas estrelas. Como são frágeis longinquamente perdidas no mar daquele céu. E se perdia nas águas turvas daquela noite enquanto se perguntavam o que tinha acontecido com eles. A cabeça pesava muito. – Mas como seria o peso da dúvida em relação ao peso das estrelas-, perguntou ele acomodando a cabeça. “Nossos pesos seriam os mesmos se mantivéssemos a distância correta como as estrelas o fazem?”. Estão lá distantes, pesadas, mas sempre cintilantes. “Elas ainda pesam quando brilham, pois se brilham fazem esforços dentro da estabilidade gravitacional”, indagou taciturno, mais distante. “Estamos sem brilho, mais ainda assim temos nossos pesos; nossa importância. Mas onde está o nosso brilho?”. O silêncio distante continuou imenso; assim como o céu diante deles. O brilho da noite confortava todos eles. Esqueciam que haviam escolhido o momento para esclarecer a vida; as dimensões das distâncias infinitas entre eles e o paralelismo com as estrelas pensantes.

– Onde estavam eles?- ele perguntou ainda fitando as estrelas cheias de cores; pesadas. E eles estavam lá em cima como as estrelas disputando o brilho e o peso das coisas que os arrodevam. E por um momento um deles se perguntou por onde deveriam estar aqueles corpos; qual constelação; a qual galáxia pertenciam.

Ficaram em silêncio observando a terra mexe vagarosamente enquanto seus pensamentos divagam nas estrelas e esperavam delas uma resposta advinda como uma estrela cadente.

– Apontei primeiro! Vou fazer um pedido- disse cerrando lentamente os olhos enquanto acomodava mais uma vez a cabeça na perna imóvel. – O que você pediu?-, perguntou sem tirar a atenção das estrelas. As estrelas estavam lá e apesar de serem anônimas, cada uma tem sua importância. Naquele calor emitido, cada uma dava vida, iluminava , preenchia um espaço vazio entre eles. E foi justamente sobre espaços que ele falou. Disse que havia pedido um espaço temporal quase longinquamente mensurável. Talvez apenas um momento para sentir o peso das estrelas. – Eu pedi esse momento e pedi, também, que a lua aparecesse e que nos brindasse com um peso de brilho maior do que aquelas estrelas perdidas-, disse tranquilamente com os olhos fechados. E assim as estrelas dançavam sua música solitária, por entre aqueles pensamentos dispersos dos dois ainda imaturos quanto ao peso das palavras. Mas mesmo assim, se aventuravam em explicar as comezinhas interpretações de seus sentimentos mútuos. Era apenas distração, enquanto o efeito do álcool amortecia seus prazeres e adormecia o sentimento mais demoníaco que os unira naquele lugar. Mais pareciam feras em cio louco, apertavam-se como se descobrissem os músculos enervados entre as pernas. Cada qual intencionava descobrir onde mais se avolumavam os calores dos sangues que os enchiam.  Suavam pela boca e transpiravam pelas salivas trocadas, num jogo do qual não se saíam vencedores. Duelavam amistosamente por entre os outros. E estavam certos do que cada um poderia oferecer; tão certos quantos os toques sôfregos poderiam mensurar suas libidos em cio quase animal. Não havia um beijo; não era um toque suave, tampouco era desejo. Talvez um encontro excepcional, quase metafórico de conjunções universais de dois deuses furiosos; quem sabe ainda munidos de ira por conta de suas desordens internas. E nesta falta de ordem encontravam o equilíbrio vital para o entendimento de suas ignorâncias completas. – Eu sou médium. Tive um contato de primeiro grau!- o mais afoito declarou no ouvido do mais comedido. Ainda não havia o álcool no sangue e sua mensagem poderia ser entendida como um poder; uma magia. Ele pensou que ele se tratasse de um homem diferente. Estava cansado das investidas; da internet, dos perfis falsos. Aquela falsa magia das pessoas simples sempre o enganara. Escolheu aquele canto para entender as pessoas sem tentar aceitá-las. Admirava-as de longe sem se deixar influenciar por palavras domésticas. Ele precisava de algo surreal, que saísse daquela expectativa vã que seria, invariavelmente, a mais simples: flores, cartões, um jantar dividido. Deveria ser o mais original. Aquele que pudesse lhe retirar daquela tranqulidade no canto escolhido; som e música aprazíveis. Tinha de ser especial.; ou pelo menos diferente.

[…] 

O álcool tinha um poder legalmente elogiável. E conseguia tirar as pessoas dos lugares que elas mais gostavam de estar. Muitos deveriam estar tranqüilos, anônimos, seguro. E então o álcool. E o lugar escolhido ganhava dimensões de um cubo mais elástico. O espaço dos pés poderia ensaiar uma dança; talvez uma saída do encosto do balcão. Era confortável permanecer no estabelecido espaço daquela renúncia. Era fácil trocar um pé, colocar um ou outro, sem necessitar invadir campo alheio. E ele não se aventurava a desafiar a linha divisória de sua felicidade e a felicidade dividida. Campo minado ele sempre pensava assim.

A música era apenas um meio termo entre o que seria desafiar a linha divisória e permanência confortável naquela noite de tentativas mais extensas do que os passos dos pés sensíveis. A linha toda se amoldava aos possíveis passos de danças ou aos pequenos movimentos dos braços sem destino. Ficava ali por horas apreciando o sabor da cerveja encorpada enquanto as linhas aumentavam seus contornos perigosos. De nada valia a batida mais forte, pois a música não tinha o poder de remover sua razão. O álcool sim o tinha. Ele tinha a virtude de transformá-lo e lançá-lo para diante das linhas de forma ousada e impensada ao ponto da desmedida incompreensão de seus valores construídos sobre o cartesianismo de seu olhar para a métrica das coisas desorganizadas. O limite era as duas latinhas de cerveja. Sua ousadia controlada lhe permitia poucos passos, o que correspondia aos pequenos e curtos passos em torno de sua linha mantenedora da ordem. 

[…]  

Pensava nos traços simétricos que o pincel imprimia sobre a tela. Era apenas a medida da cor certa, tinha de ser especial, não podia sair da reta; no outro espaço estava a outra cor e as cores não podiam se misturar: a desarmonia, o desalinho. Restava a dúvida de quanto poderia ultrapassar. A mão suava e não poderia tocar a parte branca. Tinha de ser hábil com as cores. A sintonia delas, os espaços completos e as lacunas deveriam ser implementadas. Mas havia os contornos, aqueles que davam vida às formas e definiam a possibilidades de interpretações. E nada poderia disfarçá-los, pois o toque era grosso, firme, fortemente preciso. Parecia a linha de seus pés atônitos ao redor de espaços cada vez mais exíguos. – E o todo, tenho que pensar no todo. Tenho que pensar no todo? – ele se perguntava na permissão última da derradeira cerveja. O quadro já havia saído, misturando cores diversas sob o controle exato do contorno da linha preta. Então olhou para os rabiscos no chão onde conseguia ver a linha estreita de seu pensamento monocromático.

Estava o quadro pintado como ele queria sem os passos largos de pinceladas autômatas. Era ele quem mandava nos pés- até que o efeito do álcool não ultrapassasse o seu limite de controle- de forma a colocá-los na linha correta do controle de tudo. E a linha grossa do contorno permitia que desenho se formasse claramente; as linhas desenhavam os caminhos de uma trilha. Lá estavam pequenos carros e pequenas estradas, desenhadas pelos traços coloridos como de ruas do interior de sua terra natal. Eram ruas estreitas que permitiam pequenos movimentos como se pudesse se lembrar das ruas de sua infância, quando suas linhas eram bem maiores. Os espaços eram largos, bem maiores dos que agora poderia dar. Lembrava-se do ritmo de suas pisadas contadas quando sumia da casa de seus pais, quando sempre temia que fosse descoberto, mas era quando suas expectativas se tornavam em saltos largos, sem o comedimento de suas linhas controladoras, assim parecia ter  vida. A vida irresponsável de sua juventude lhe dera a liberdade de conhecer outros espaços; outros tamanhos de felicidade maiores do que as havidas até então. Mas, de repente, a vida adulta e responsável de um artista cheio de visões o obrigou a ter um olhar mais agudo das coisas; certo pudor e decoro para tirar as cores certas, o traço perfeito. E sua medida das coisas levava consigo no seu mudo cercado de quadros coloridos e de paredes brancas. Havia apenas o realce das telas, no entanto sua vida era o anteparo branco das paredes sem vida. Eram paredes brancas.

Mas havia linhas brancas por entre os sapatos; era apenas um pequeno quadrado nos quais lhe cabiam os pés. Ainda estavam assustados com sua ousadia de ensaiar uma dança, um ritmo diferente ao compasso da música. Seus braços estavam cruzados. O limite das cervejinhas já havia sido atingido como a pincelada última; não poderiam existir mais reajustes. A pintura estava pronta. Não poderia sair dali senão para o caminho da saída. Mas tinha uma saída nas linhas tortuosas da tela colorida. Sim, havia uma espécie de saída para os passos daquele que estava a percorrer a estrada dos caminhos. A tela parecia fechada e a saída tinha sido um descuido do pincel desatento.

E os pés pareciam ter vida própria e queriam sair daquele claustro. Ansiavam por sair e encontrar não a saída da rua, mas como a saída da tela que existia como possibilidade. Era uma saída.

[…]

– Por que você está calado?-, perguntou o outro ainda sem entender o pedido feito as estrelas. Ele respondeu apontando para outra estrela cadente. Agora foi sua vez de fazer um pedido. Fechou os olhos e pediu inclinando ligeiramente para baixo a cabeça pesada.  – Então o que você pediu? Também quero saber-, disse ele levantando-se tentando olhar em seus olhos. Mas não quis falar sobre isso. Era extremamente tímido. Ele não teria saído dali se o outro não tivesse aumentado os quadrados de seu caminho. – Pedi que meus caminhos pudessem ser alargados como o caminho das telas que pintei, havia uma saída, ou que houvesse sempre alguém que mostrasse o caminho de mais quadrados- falou como se aliviasse de uma tortura. Ele ficara por muito tempo naquele espaço. O tempo passava longinquamente por entre seus pés. Deteve-se por muito tempo como se dependesse de uma muleta para sair andando. E de repente ele enxergou a saída como a deixada por displicência na pintura última. Estava lá fora da interpretação fechada que queria dar. A abertura da rua não tinha o contorno da tinta preta que cerceava a liberdade da obra. Ela era fechada porquanto não havia interpretações. – Eu não queria saídas!- disse como se explicasse a resistência ao galanteio do outro. Na verdade, os traços tinham sido feitos ao léu. Na sua experiência sabia que a obra final apareceria no último traço.

Não havia preparação, apenas as cores primárias. Elas tinham que existir de qualquer forma, mas não gostava de detalhes de humanos nas suas pinturas. Eram, por excelência, abstratas num sentindo mais intimistas e repletas de interpretações instantâneas. Eram simples demais. Naïf. No entanto, fortes. Cores fortes que representavam a alegoria de uma metáfora de um livro escolhido. Poderia ser a última leitura como o último romance da cabeceira escura. E lá estava Wilde a decifrar quase que hermeneuticamente os sonetos de Shakespeare; ou as leituras impossíveis de visualizar de Emille Dickinson; ou poderia ser a mistura, a tentativa de entender as linhas que rimavam e que escondiam um amor longínquo. Estavam na cabeceira como um alento; em último caso, inspiração.

Não existia tampouco um ritual, uma indumentária talvez: um saco plástico por sobre a bermuda já manchada. Ao lado sempre deveria estar a paleta. A sua já estava completamente tomada pelas cores, pelas tentativas de criar algo novo e como se do algo novo surgisse a cor perfeita e, por conseguinte, o traço perfeito. E aí residia sua principal preocupação. Ele sempre pensava no último traço, pois sabia que ao término teria a satisfação final. Até lá, tinha a difícil tarefa de encontrar a inspiração para o depois do primeiro rabisco na tela. Sobre o que seria o final também o deixava sob certa angústia. Às vezes a imagem não parecia ter formas, ou pelo menos uma linha, um desenvolvimento. Era instinto talvez.

Passou o primeiro traço vermelho sobre a tela branca. Pensava no caminho de rosas vermelhas de uma estrada sem fim; para isso reforçou o traço fazendo um desenho em forma de serpentina. Ainda não havia os contornos. –Que imagem dar a este caminho?- pensava intimamente.  Mas deteve seu pensamento e buscou um mistura diferente. Pegou o laranja, misturou com o azul. Passou o pincel. Fez a primeira volta e viu a terra. Assim continuou com o traço, desenvolvendo outra serpentina facejando a outra linha vermelha. Elas percorriam caminhos diferentes apesar de se tocarem em algumas partes, mas não se alinhavam, nem se opunham. Estavam lá exigindo um valor para suas formas e esperando o contorno final para a assunção de suas existências. E ainda não havia sentido para aqueles caminhos. Olhou para a paleta como se fosse inventar outra cor. Apertou o tubo do azul. Não reconheceu vida, nem morte. Então pegou o amarelo; apertou o tubo amarelo e a tinta saiu como se tivesse vida própria, dando brilho à paleta inerte; mero instrumento daquele mister. E o amarelo pareceu recobrar-lhe o interesse. Pensava em misturar e, assim, emprestar ao azul um sentido maior. Pensou bem e molhou o pincel na água encheu-o de vida e transpôs uma linha maior de amarelo por entre os espaços brancos obedecendo ao mesmo princípio das serpentinas.

Distanciou-se como se tentasse vislumbrar e antecipar toda a obra. Virou a cabeça para um lado e para o outro e ainda não havia nada. Virou a tela de ponta cabeça e viu as ondas de um mar de arco-íris, faltavam-lhe outras cores. E então pensou num arco-íris. Colocou-o na vertical e imaginou um dragão chinês. No entanto, nada disso parecia com o que sua vontade de realização final havia endereçado à sua inspiração. Na realidade, ele queria que fosse uma interpretação poética de alguma obra literária; que dissesse algo mais simples e menos prolixo. Nada de aberrações.

[…]

A linha dessa vez era branca. Não mais preta e firme que davam contornos de vida, mas aquelas que separavam os azulejos quadrados. Ensaiou um cheque mate. Sentiu-se ousado e então avançou em movimento do cavalo. Desequilibrou-se. Voltou à posição inicial, procurando o lugar confortável de outrora. Desequilibrou-se. Já não era mais seu lugar.

– Pensei que não fosse me dar a oportunidade de brincar com você!- falou o novo ocupante do lugar escolhido.

Ele não acreditou que pudesse dialogar naquele local. Aventurar-se em sair dos quadrados e jogar esse xadrez solitário tinha sido o mais longe ao longo de tantos anos. Não houve ensaio. Foi tudo de primeira vez, de primeiro impulso direcionado pelo temor de não saber lidar com essa novidade. E então, depois de tentar alguém se aventurar em observar sua insólita dança, ele não entendia o porquê de tomar seu lugar. Pois ele havia chegado de mansinho, observando aquela multidão de corpos suados embalados por uma música quase incompreensível. Escolheu o melhor lugar, o mais discreto e então se dispusera a aproveitar apenas o prazer de duas cervejas, ainda que controladas, evitando que sua timidez virasse algo descontrolado. E virara certa vez.

[…]

A tela era bem maior do que pudera imaginar sua vontade de pintar. Foi um presente, mas não uma exigência de se pintasse para o doador. Era apenas um presente. Grande parede branca como uma página em branco em confronto com os desejos do poeta. Então pela primeira vez tinha a impressão que nem mesmo o primeiro traço poderia dar. Olhou diversas vezes para que pudesse entender o que poderia ser feito. Pensava nas primeiras impressões que poderia dar, iluminando a tela com um fundo claro ou lívido. Talvez as estrelas! Mas desistiu por insistir em cores claras em luz assim como os impressionistas. Sob a luz do dia. Plantados como árvores esguias sem folhagens a espiar o movimento das luzes e sombras sobre o jardim descampado. Ficavam ali, compenetrados nas dimensões certas da sombra e do efeito da luz sobre todas as coisas. E era fácil. Tinham todo um panteão de inspirações para rebuscar o trabalho, dar forma, dar vida e história. Mas ele se sentia uma inquietação nunca antes sentida.

Por alguns instantes pensara numa imitação; uma procura de imagens que pudesse continuar. Imaginou, segurando o pincel e com o polegar na sua parte superior- criou uma régua-, e distanciou-se para auferir a figura. E então vieram porções de amarelo pedidas por entre a imensidão daquela tela. Pensava em flores talvez. Monet e seus nenúfares. Desistiu. Seria uma cópia. – Todos fazem cópias, talvez uma apropriação!- pensara com seus pinceis. E parecia que naquele momento a inspiração não viria. Havia, também, desistido dos livros. Todos estavam sem sentido para eles até mesmo seu preferido. Pegou Cabral e começou a ver imagens; passado, infância. Mas havia crianças a brincar, lagos, o canavial. Na realidade não era seu favorito- estava à mão- e havia as intervenções humanas. Ele queria o abstrato, ainda que pensasse nas flores, nos grandes vestidos das senhoras. E apareceu do lado Mrs. Dallaway cortando as flores e preparando-as para a mesa. Estavam lá povoando a mente de possíveis intervenções. Mas nada lhe dava a medida certa.

Sentou-se ao lado do Bordeaux à mão também. Ali em casa poderia ficar a vontade. Sentado e ainda inquieto com a única preocupação daquele dia. A primeira taça veio de leve. Estava um pouco cheia e um pouco vazia ainda de sua tentativa. Pôs os pés na mesa, cruzando-os na mais perfeita posição no cômodo de sua divagação. O sabor estava a contento do sempre paladar apurado. Ali ele poderia tomar sozinho suas garrafas. Aliás, sozinho era a condição para suas incursões no seu mundo. E então foi um momento para parar e visualizar o tamanho de seu atelier. Olhou para as paredes e começou a contar suas telas. – Um, dois, três…-perdeu-se na sua medição idiota. Havia os vendidos e os que ficavam no andar debaixo.  No entanto, mantivera-se observando os arredores, voltou-se para o lado e observou seu brinco de princesa que ficava pendurado na varanda. Levemente o vento o deslocava de um lado por outro sem se incomodar com o fato de a vida estar nele. Mas estavam lá, dezenas de pequenas flores quem pendiam como brincos, mas poderia ser lanternas. – Podiam ser lanternas, ou câmeras a observar seu trabalho; sua inquietação. Então, parou para observar melhor e começou a contar o número de brincos. –Um, dois, três, quatro…Mais um gole depois de rodopiar o vinho na taça bebeu-o em suaves toques da língua. Ficou ali por horas…

Olhou a grade que sustentava a Azaléia e pensava na beleza das formas que pareciam suplantar a beleza das flores que sustentava. As formas imitavam os traços de mãos delicadas que se enroscam em torno de si, como se quisessem segurar toda a sorte de coisas com suas mãos frágeis. Eram mãos verdes, talvez musgo. Mas era uma obra de arte que tinha mais valor do que sua fortaleza suportava. E elas estavam lá há anos sem que ele soubesse do que se tratavam; do que representavam para ele.

Mais um gole veio. Ele estava na segurança de seu atelier, emoldurado pela sua vida gasta em pincéis e telas. O tempo tinha sido esse momento de razão no qual se pensou como parte de tudo aquilo. Era seu mundo, mas não havia comunicação. Assim como as plantas, as telas haviam passado despercebidas. Uma conversa longinquamente solitária mantinha sua estirpe. No entanto, era apenas um mundo sozinho cujas linhas ele havia traçado nas suas telas e na sua vida.

 

 teste

Capítulo 2

Amizade de Sangue

[…]

– Trouxe um vinho. É o seu favorito-, entregou a ela com o mesmo tipo de laço. Ela era sua única amiga.

– Entre! Quero te mostrar uma coisa- ela disse com olhos cheios de empolgação. Pegou-o pela mão e pediu-lhe que fechasse os olhos. Ele sentiu que seria mais uma tentativa dela de convencer que poderia mudar alguma coisa. No entanto, o status quo não poderia se modificado. Sua predileção era clara: o bronze de Rodin, a tez de São João Batista e o falo das esculturas romanas às gregas. Mas no fundo ele tinha certeza de sua predileção. O fato é que ela insistia para ele tivesse uma postura diferente em relação a sua vida. Os passos deveriam ser mais amplos; mais amplos que o caminho de seu atelier para casa; ou da casa dele para um jantar na vizinha casa da amiga. E por muito tempo essa amizade se manteve nesses contatos quase mudos regados à vinho e a tertúlias domésticas.

– Abra os olhos!- ela pediu sussurrando em seu ouvido. Ele se manteve parado e coçando os olhos com as pontas dos dedos, pôde ver a grande pintura. O quadro tinha quase 5 metros de largura e 2 de altura. Era uma pintura muito rica. Vários detalhes o colocaram em demorado silêncio, analisando, primeiramente a feição da amiga- ansiosa para um comentário inicial-, e depois ainda sem palavras para admirar a obra de arte. Aproximou-se e tentou cheirar o frescor das tintas- para ele cada cor tinha cheiro-, portanto o amarelo tinha cheiro de primavera, de flores. O verde claro, que emoldurava e preenchia a tela cheia de folhas, tinha cheiro de terra molhada, como a terra dos seus jardins que aguava todas as manhãs. Sentiu o cheiro dos lírios que ladeavam o caminho do quintal assim que se aproximou das gigantes begônias brancas. Distanciou-se e abriu os olhos para a dimensão da tela que o enchia de certa familiaridade. E finalmente reaproximou-se tocando suavemente os tijolos da estrada.

A única coisa viva que aparecia naquela tela era apenas um pequeno homem de costas vislumbrando o grande caminho de tijolos sobre o qual se encontrava um pequeno banco. A imagem parecia o solitário magpie de Monet. Aquele homem era o pequeno magpie, propositadamente aquele pequeno ponto preto e branco.

Ela deu dois passos para trás. Esperou que ele saísse daquele transe. Ele afirmava: – Sou eu esse magpie, sou eu aquele magpie… – esse pensamento reverberou por toda a dimensão da grande sala.

– Ainda você insiste nesta história de solidão? – bradou mais alto do que seu tom de voz normal.

– Por você me retrata como se eu fosse um só. E você então?- ele se pôs a discutir com o dedo em riste. Na direção dela, ele bradava como se fosse um maluco. Seus gritos ecoavam dentro do enorme vão. E revidou:

-Ainda não esqueceste o calor de meu sexo, minha boca entre tuas pernas? Não sabes que não pode frutificar essa fornicação? – Ele repetiu sua sentença duas vezes.

Havia sido no primeiro encontro num vernissage de um amigo em comum. Ele ainda não sabia de nada sobre essa libido para com mulheres. Havia nele a convicção de que não saberia nunca o que fazer com um desejo da raça, no entanto, não sobrevivia dentro dele. E por muitos anos ignorou. E ainda mais que se dizia puro, virgem.

Mas nesse dia tinha que provar a si mesmo que nenhuma mulher poderia entender o que fazer com a libido dele. Eles eram apenas admiradores do amigo pintor. Eram todos pintores. E este detalhe mudava sua atenção somente para ela. Ela era inteligente também. E o viço em sua pele administrava uma sensualidade fora do comum. Na verdade, seu interesse residia nos olhos inteligentes. E ela era inteligente. Seus comentários eram perfeitos e sua beleza estranhamente interessante. Tudo isso favoreceu a sua perdição momentânea. Uma recusa a um bom vinho não cairia bem. Ele precisou de um argumento mais contundente. Assim esqueceu-se do que não queria.

Os dois foram pra cama a convite de vinhos caros e impressões substanciais acerca das artes. Somente por isso, depois ele pensou. Mas o fato que daquela troca incômoda eles ganharam certa intimidade de amigos confidentes. E todo aquele novo e rápido mundo- pare ele- demorou apenas o instante do gozo; quanto a ela, isso poderia se desenvolver além de uma simples amizade. E pare ele o interesse permaneceu em sua inteligência e no seu talento; quanto a ela o interesse dava lugar ao amor.

[…]

– Vamos tomar o vinho!?- ela falou com a voz banda cheia ainda de sua inteligência incial. E acrescentou:

– Não quis ofendê-lo; nem tratar na tela uma figura solitária. Apenas pensava em você.

Ela quis desfazer o mal-entendido. Mas agora o entendimento da sua libido continha toda a reclusão de seu celibato em tempo definitivo. Ela quisera talvez convencê-lo de que poderia pintar maior, melhor do que ele; do que suas telas simplórias. Ou talvez ela o estivesse convencendo de outra coisa. E isto, na realidade, era o que preocupava ele. Afinal sua amizade estava fadada a mais uma estatística de que as mulheres são mais inteligentes do que os homens, quando o quesito é levar um homem para cama.

– Onde está minha garrafa de vinho?- Perguntou com os olhos cheios de raiva.

– Aqui está! Ela entregou como se tivesse acalmado a revolta em seu amigo.

Ele pegou a garrafa e num golpe certeiro arremessou em direção ao quadro. A tela se manchou de sangue; de vinho. Sua ira havia se esvaído. E sua amizade havia acabado ali.

                                                                                                                                   Continua…

Existe uma estética homossexual?, BRAVO! n° 144

A Revista BRAVO!,n° 145, publicou minha crítica acerca da Estética Homossexual na Literatura:

A matéria da edição agosto sobre a estética homossexual ( Existe uma estética homossexual?, BRAVO! n° 144) baseia-se no sofisma da homossexualidade como personagem da psicologia do séc. XIX e restrita àquela estética histórico-cultural. Pois bem, a matéria assinada por José Castello limitou-se a análise enclausurada sob o estigma da homossexualidade ainda tomada como algo doentio. Seria injusto falar numa estética homossexual quando esta não pôde ser vivida na plenitude e sim na doença de seus inquisidores…

…A experiência de Gide é reveladora por conta de sua abordagem, mas se ele não vivesse na atribulação do medo e do pecado, sua Literatura, bem como as dos outros citados, suplantariam qualquer estética de conotação heterossexual.

Veja a crítica na íntegra:

A matéria da edição agosto sobre a estética homossexual baseia-se no sofisma da homossexualidade como personagem da psicologia do séc. XIX; e restrita àquela estética histórico-cultural. Pois bem, a matéria assinada por José Castello limitou-se a análise enclausurada sob o estigma da homossexualidade ainda tomada como algo doentio. Seria injusto falar numa estética homossexual quando esta não pôde ser vivida na plenitude e sim na doença de seus inquisidores. Falar em literatura e limitar sua contribuição para a sexualidade humana é temerário; mas estigmatizar como apenas existente o parâmetro sócio-biológico da heterossexualidade é um absurdo. Em o “Bom Crioulo” usou-se a estética naturalista e biológica, não por existir uma estética homossexual, mas para reafirmar pontos das ideias vigente sobre ela: o caráter quase animal da sexualidade. Mostra-se apenas uma apropriação para trazer à tona a polêmica do tema. Falar em estética homossexual tem que ser feita por homossexuais. Citou-se, exemplarmente Arenas, mas ele não falava em viver a homossexualidade nas ruas escuras, nos parques; havia em Arenas a necessidade de manifestar sua sexualidade numa atmosfera castrista anti-gay, nada mais. E isto era impossível. Em Nova York sentiu a liberdade, mas não teve mais tempo. Falar em Literatura gay, ou estética homossexual e falar de escritores gays, escrevendo sobre suas experiências na literatura. Para falar em Literatura gay, devem-se analisar autores além dos estereótipos doentios, é falar de nós escritores que escrevem com a alma pacificada e o amor gay vivido em sua plenitude. Falar em Wilde suplicando perdão nos últimos suspiros é limitar a estética homossexual a um modismo infundado. A literatura gay existe porque existe o amor gay. A experiência de Gide é reveladora por conta de sua abordagem, mas se ele não vivesse na atribulação do medo e do pecado, sua Literatura, bem como as dos outros citados, suplantariam qualquer estética de conotação heterossexualtéria da edição agosto sobre a estética homossexual baseia-se no sofisma da homossexualidade como personagem da psicologia do séc. XIX; e restrita àquela estética histórico-cultural. Pois bem, a matéria assinada por José Castello limitou-se a análise enclausurada sob o estigma da homossexualidade ainda tomada como algo doentio. Seria injusto falar numa estética homossexual quando esta não pôde ser vivida na plenitude e sim na doença de seus inquisidores. Falar em literatura e limitar sua contribuição para a sexualidade humana é temerário; mas estigmatizar como apenas existente o parâmetro sócio-biológico da heterossexualidade é um absurdo. Em o “Bom Crioulo” usou-se a estética naturalista e biológica, não por existir uma estética homossexual, mas para reafirmar pontos das ideias vigente sobre ela: o caráter quase animal da sexualidade. Mostra-se apenas uma apropriação para trazer à tona a polêmica do tema. Falar em estética homossexual tem que ser feita por homossexuais. Citou-se, exemplarmente Arenas, mas ele não falava em viver a homossexualidade nas ruas escuras, nos parques; havia em Arenas a necessidade de manifestar sua sexualidade numa atmosfera castrista anti-gay, nada mais. E isto era impossível. Em Nova York sentiu a liberdade, mas não teve mais tempo. Falar em Literatura gay, ou estética homossexual e falar de escritores gays, escrevendo sobre suas experiências na literatura. Para falar em Literatura gay, devem-se analisar autores além dos estereótipos doentios, é falar de nós escritores que escrevem com a alma pacificada e o amor gay vivido em sua plenitude. Falar em Wilde suplicando perdão nos últimos suspiros é limitar a estética homossexual a um modismo infundado. A literatura gay existe porque existe o amor gay. A experiência de Gide é reveladora por conta de sua abordagem, mas se ele não vivesse na atribulação do medo e do pecado, sua Literatura, bem como as dos outros citados, suplantariam qualquer estética de conotação heterossexual.

Está crítica saiu na edição de setembro ( BRAVO! 145)

The Hangover, Se beber não case…

foto2Depois de Brüno, não pensei que houvesse filme mais politicamente incorreto. Mas acabei me deparando com “Se beber, não case”, (The Hangover), dirigido por Todd Phillips. E ainda me surpreendo com as críticas a elogiar essa comédia escatológica. O filme inicia, tentando inovar na narrativa – utilizando um clichê já não tão original-, contando a estória de trás para frente.

No início, percebe-se certa coerência com as sinopses do filme que houvera lido: os amigos vão para Lãs Vegas para curtir a despedida de solteiro do amigo Doug. Nada tão ingênuo e mais autêntico do que celebrar a solteirice, vez que o casamento não mais permitirá esse tipo de comportamento. Se tal é o pensamento de que o casamento aprisiona, por que as pessoas casam? Mas o filme, de longe, parece preocupar-se com tais assuntos. Ao contrário, parece existir certo ritual falocêntrico e machista de os homens se comportarem como irracionais antes da grande festa. Até mesmo o sogro, que deveria se preocupar com o futuro genro inicia – ou perpetua esse ritual -, oferecendo seu melhor carro para que seu genro aproveitasse o momento da transição. A cena é patética; como se houvesse um grau evolutivo na confecção do grande homem que surgiria depois da grande farra. E para arrematar, o pai da noiva alerta que tudo que acontecerá em Vegas, ficará em Vegas, a não ser os herpes. É cômico, mas ridículo.

Não irei perder meu tempo em recapitular as pérolas desse filme. Para começar vou falar do título, que mais soaria com a temática do filme se intitulasse: Se beber boa noite cinderela; não faça nada, nem case. Pode parecer absurdo, mas não se trata de bêbedos que não sabiam o que faziam; de fato, eles se envenenaram com uma espécie de droga conhecida como boa noite cinderela: Rophynol, também chamada “rape drugs” e que, na realidade, potencializou a embriaguês. O resultado ficamos sabendo só no final. Enquanto empreendem uma busca na tentativa de entender o que haviam feito, as atrocidades começam a ser reveladas. O idiota do cunhado- um protótipo glutão saído de uma orgia woodstoquiana-, um pouco nerd, um pouco maluco, é o culpado de toda a desventura do grupo, pois comprara o Rophynol em vez de ecstasy. Essa foi a mistura explosiva para as loucuras acontecidas. Este tipo parece o estereótipo de um autêntico norte-americano incrustado na sua couraça de alienação e ignorância. O que nos diverte nele é a própria imagem de um país – e por que não uma sociedade globalizada- em plena decadência de valores e costumes.

 E por falar em valores, moral; é preciso falar do metido a galã que, por incrível que pareça, é professor de ensino fundamental. É um absurdo a cena na qual o tal professor- não vou saber de nomes porque são atores desconhecidos- engana seus alunos solicitando uma verba para uma espécie de gincana, ou algo de cunho cultural- não recordo. Mas de fato, o dinheiro dado pelos alunos é usado para financiar sua viagem para Lãs Vegas. Esta cena é deprimente e representa a corrupção e falta de ética que perpassa toda a sociedade americana. Numa cena posterior, a corrupção também afeta os médicos da rede pública ou privada, não sei ao certo; completamente subornáveis e igualmente antiéticos. E assim a película que apela para um humor sem descrição; nem ácido, tampouco simpático; difícil de enquadrar dentro de meus parâmetros. Talvez sê um quê de escatológico ou sádico, porquanto cenas gratuitas de violência e desrespeito povoam todas as passagens do filme. Existe uma na qual a “guarda” temporária de uma criança, que aparece no quarto da orgia- o que fico pensando, será que a criança, no filme, chegou a ver as cenas de sexo?-, fica à cargo do maluquete irmão da noiva. Numa outra cena, o cunhado, saído de woodstock,  simula, com a mãozinha do bebê,  uma masturbação; cena esta que se repete duas vezes. Enfim, o filme parece uma grande brincadeira de mau gosto.

No final, as coisas voltam à cena inicial e eles – os exemplos de masculinidade e moldes de toda a cultura falocêntrica americana-, num exemplo quase irreconhecível de inteligência, relembram que deixaram o amigo- o noivo- no telhado do hotel em que se hospedaram.

Não posso esquecer-me da participação especialíssima de Mike Tyson, o que deu um brilho de inteligência e humor impagáveis. Será que estou sendo irônico?

Juntamente com os créditos finais, eles revelam toda a sorte de coisas que fizeram por meio de uma câmera que registrou todas as peripécias do grupo. E infelizmente, quem lê essa crítica terá que ver o ensaio fotográfico das bizarrices.

Fica no ar a mensagem de que devemos, de vez em quando, ser um pouco malucos e deixar que, de alguma forma, as coisas voltem à normalidade sem o peso e a exigência de posturas sérias diante de nossas próprias vidas. Ah! Se beber não vá ao cinema; ou melhor, se beber, vá ao cinema assistir The Hangover.

O MAIS NOVO LIVRO DE ROBERTO MUNIZ DIAS É:

O mais novo Livro de Roberto Dias é :

 

Adeus a aleto

SEXO COM AMOR:

        ” … Continuou dentro de mim como se pudesse me levar para outro mundo. Não conseguia olhar em outra direção seu corpo forçava contra o meu na medição de forças mais pacífica que podia existir. E não havia interstícios, pois sua vontade era a minha. Sentia-o cada vez mais forte e maior, como se seu sangue avolumasse a cada minuto seu sexo dentro de mim. Começou a parar e sentir-me provocá-lo; apertava-o como se chamasse a atenção para que não parasse. Por seu turno, fazia isso para sentir um pouco mais de minha vontade; se era de sim ou de não. Mas não havia dor naquele instante.  Pegava-me como se eu tivesse intenção de desistir; puxava-me contra seu corpo para que eu sentisse senão a verdade. Ele não parava e não parava de me olhar… “

SEXO SEM AMOR:

”             Ato I Cena II

            O Sodomizador entra em cena. Completamente nu, um corpulento homenzarrão negro adentra vestido com peças de couro por sobre o peito e uma argola em volta de seu pênis ereto.

            Sodomizador- “Vamos brincar meus gatinhos”. Retira um líquido preso as ligas na cintura e começa a lambuzar seu dedo médio. Começou a enfiar o dedo nos anus do sodomita da esquerda.

            Domintarix- “Mais, quero mais. Coloque sua mão”. Então o obediente servo colocou mais gel em torno de sua mão e braço e outra parte colocou sobre seu imenso falo duro.”

INGENUIDADE:

” Corríamos, descíamos as escadas como qualquer criança feliz poderia descer: aos saltos; pulos, escorregando pelo corrimão. Não sabia mensurar quão velho estava para pensar que fazíamos uma traquinagem; tampouco desconhecia o quão jovens éramos para poder aventurar a se permitir. Descer assim tinha a ver com certa renúncia; aceitar uma condição de agora, nova e deixar pra trás algumas marcas que o tempo queria mostrar indeléveis. Mas naquele momento apenas havia a felicidade de qualquer coisa menos do que nossa constatação de o tempo ser algum empecilho. Éramos apenas duas pessoas saindo de seus mundos, deixando a irresponsabilidade como maior legado para a geração dos homens que ficaram para trás. “

LOUCURA:

” 

Tentei esmurrá-lo. Esmurrei o ar. Esmurrei o espelho. O sangue espesso e escuro começou a verter de meu pulso. Espalhava-se por entre os espaços brancos da camisa, pingando sobre a pia. Me veio uma dor forte como revelando um profundo corte em meu pulso. A dor me causou um torpor mortal.

          Apertei meu braço e o sangue parou rapidamente. Amarrei a tolha em torno do braço. Quis fazer um curativo, mas uma letargia tomou meu corpo de conta. Adormeci. “

Categorias:Livros ( Books)

Saiu no Correio Braziliense

EditorEditoras virtuais que publicam livros sob encomenda começam a surgir no país Publicação: 26/08/2009 09:25 Atualização: 26/08/2009

Editora: Ana Paula Macedo

Para escritores desconhecidos no mercado editorial, publicar um livro com o apoio de uma editora tradicional é tarefa difícil. Em muitos casos, uma boa rede de contatos tem mais importância do que um bom material para que alguma editora se interesse pelo trabalho do autor. Porém, alguns sites na internet, inspirados em iniciativas já consolidadas no mercado norte-americano, trazem uma nova proposta: publicar obras literárias sob demanda, com tiragens sem limite mínimo de cópias e com o benefício de não haver restrição temática. Quando o empresário C. André, 45 anos, descobriu um site que oferece esse tipo de serviço, constatou: “Era isso que eu precisava”. O carioca, que mora em Brasília, mandou o livro que escreveu para editoras fora da cidade há três meses, mas ainda não obteve resposta. “Com esses sites, há a vantagem da agilidade e da democratização”, destaca. Ele exemplifica com os variados tipos de gêneros literários encontrados nessas páginas da internet. “Você encontra dissertações, poesia, autoajuda, romances.”

O professor de inglês Roberto Muniz  Dias, 33 anos, viu na internet a possibilidade de lançar seu material “sem limitações”. Roberto tem quatro títulos publicados em um site, que, juntos, venderam cerca de 200 cópias. “Não dá pra precisar a quantidade, mas eu sei que pessoas de várias partes do Brasil tiveram contato com o meu trabalho. Isso é muito gratificante”, destaca. A Câmara Brasileira do Livro (CBL) registrou, no ano passado, o lançamento de, aproximadamente, 19 mil títulos inéditos. Ricardo Almeida, diretor-geral do site Clube de Autores, no ar desde fevereiro deste ano, tem 1,6 mil livros em seu acervo – o que representa 8,5% das obras conhecidas como primeira edição publicadas em um ano no Brasil. “Esses números são surpreendentes e significativos”, afirma. A técnica O processo técnico dessas edições sob encomenda é simples: o autor se cadastra no site e envia sua obra em padrão A5, com o arquivo no formato PDF. Na página do Clube há um guia para explicar como se faz essa configuração. O site, então, calcula os custos para imprimir e distribuir a obra – de acordo com a quantidade de páginas – e, em seguida, o autor informa quanto quer ganhar, por cópia, com direitos autorais. O livro, cuja capa pode ser feita pelo próprio autor, não tem orelha, nem texto na lombada . Outro site brasileiro com trabalho semelhante é o Armazém Digital. Felipe Rangrab, da editora de Porto Alegre, sustenta que projetos do tipo “são uma alternativa fácil, barata, e rápida para que os autores possam publicar suas obras.” De livros didáticos a publicações em multimídia (CDs e DVDs), o site abriga material de cerca de 100 autores. A Câmara Brasileira de Jovens Escritores (CBJE) é um site cujo serviço que oferece é um pouco diferente das duas páginas de internet citadas acima. Ela publica pequenas tiragens, a partir de 30 exemplares. Isso também é vantajoso para o escritor, já que editoras comuns não trabalham com tiragens menores que mil exemplares. “Com muita negociação, você consegue fazer o mínimo de 500, mas o custo é alto, pode chegar a R$ 10 mil”, revela Luis Satie, 46 anos, que também usou a internet para lançar os 10 livros que já escreveu. O autor tem a opção de enviar o texto do livro em Word, por e-mail ou pelo correio. Todo o trabalho de arte é feito pela editora, como a diagramação do miolo e a criação da capa. Além do bloqueio O caso de Satie, auditor federal de controle, é curioso. Ele chegou a ter um livro aprovado por uma editora mineira que, de última hora, desistiu da ideia. Por isso, decidiu divulgar o próprio trabalho por outros meios. “A gente que produz fica angustiado, com o texto na mão, e a internet permite que a gente consiga superar esse bloqueio imposto pelas editoras, esse muro de Berlim”, assegura. “Tem muita gente boa escrevendo e esses sites são bons aliados para divulgar”, ressalta. No entanto, apesar dos pontos positivos, os três escritores de Brasília veem algumas desvantagens nesses projetos. C. André e Luis Satie concordam que o custo de produção dos livros publicados é alto, o que dificulta uma margem de lucro significativa. “O problema da impressão por demanda é que o custo unitário acaba ficando alto, pois concentra vários componentes da logística de edição e impressão em poucos exemplares. Do valor do meu livro, por exemplo, eu só fico com R$ 6”, lamenta André, cujo livro custa R$ 43,65. Outro problema levantado por Roberto Dias é a pouca visibilidade que esse meio de publicação traz. “Um site não tem o poder de exposição que uma editora conhecida tem.” Mas André não considera isso relevante para quem só deseja ver a obra concretizada e não se preocupa tanto com a divulgação. E cita o escritor Jorge Luiz Borges para justificar essa opinião: “O autor publica um livro para se ver livre dele, senão fica reescrevendo, reescrevendo%u2026” SITES PARA PUBLICAR LIVROS No Brasil: http://clubedeautores.com.br/ http://www.armazemdigital.com.br/ http://www.camarabrasileira.com/ No exterior: http://www.lulu.com/ http://magcloud.com/ http://www.blurb.com/ http://www.bubok.com/ TEMA DAS OBRAS DOS PERSONAGENS DA MATÉRIA » C. André: fala sobre atitudes individuais que podem mudar um ambiente social. » Luis Satie: relação entre direito e estética » Roberto Dias: poesias, contos e livros com temas de monografia

O vento frio e coisas com carinho; também um pouco de saudades e cucuz da mamãe

Um momento quase como esse de ar frio, envolto pelo cheiro familiar. Parece café com pão; pode ser o de milho cozido. Ao passo da batida, consigo a coreografia para a música; assim a caminhada se torna menos cansativa.

 

E também há a alameda, enquanto me aqueço com meu próprio corpo, meus braços cruzados; e ainda assim, as coisas continuam sem fazer sentido.

 

A música fala de imagens próprias; filmes talvez. Filmes de si. Penso que sejam pequenos flashbacks, como pequenas passagens daqueles filmes de erros que cometemos. E então, têm-se as flores do jardim do lado. Bem decorado; com todo o denodo de um artista apaixonado.  As flores fazem parte de um filme. Talvez seja sobre mim ainda.

 

 Ainda os flashbacks. E as flores vêm com o um cartão de desculpas pelo momento anterior. “Ontem, desculpe-me pela ousadia”. – Por que flores têm a ver com desculpas maiores?-, sempre as questiono dentro de meus pequenos filmes.

 

O passo é firme e não claudica, enquanto a música muda; quando a história parece culpar o outro. Nem sempre a culpa é algo palpável. Meu ódio era apenas das flores. – Que mau gosto!_ e as coisas pareciam rearranjadas como livros coloridos. E os filmes pequenos? Pois lá estávamos eu e as flores, e ele e suas desculpas. Eu não poso parar esse filme. Ele se repete sempre em minha memória.

 

E o cheiro recorrente de saudade desenha outra cena. O café com pão sobre a mesa da casa. Lá está mamãe a servir seu carinho e a comida juntos. Ela e seu amor por mim serviam a mesa. E tudo estava tão simples e perfeito. Era minha mãe.

 

E quando penso na existência de minha mãe, todas as coisas parecem perfeitamente repletas de sentido.

Categorias:Contos, Livros ( Books)

Deuses Furiosos

Ele descansou sobre a rocha ainda com as asas feridas. O sangue vertia vermelho por entre as asas. Apoiou-se numa das pernas e impulsionou o corpo para cima. Voou mais uma vez.

As asas de Cassius batiam sem parar e ele parecia pairar sobre o ar. Jacinto alcançou-o de um só impulso e seu corpo musculoso atingiu Cassius violentamente.

Os dois se abraçaram e permaneceram no ar por alguns minutos. As asas de Jacinto eram menores e a envergadura das de Cassius imobilizaram os movimentos de Jacinto.  O abraço não podia ser desfeito, enquanto os dois caíam numa velocidade absurda. Os corpos pareciam apenas um, mas o corpo de Jacinto se vertia em dor e sangue.  Sua mente apagava lentamente e não podia mais controlar seus poderes a dor diminuía, ao mesmo tempo em que as asas encurtavam e sumiam nas suas costas.

Cassius soltou-o de encontro ao mar. Jacinto afundava ainda desmaiado enquanto o outro fazia o caminho de volta. Suas asas faziam sombras sobre as águas revoltas do mar.

As guelras começaram a apareceram espontaneamente e Jacinto gradualmente conseguia se mover…

Categorias:Contos

Entrega para Jezebel ( parte final)

O telefone tocou; o computador estava desligado e o interfone mudo. O telefone parou; o interfone tocou e o computador ainda desligado. O telefone, o interfone e o computador estavam sem vida; assim como Henrique sobre a cama.

Nada tinha a mesma importância para aqueles momentos mórbidos. Jezebel parecia completamente morta, enterrada talvez. E isso deixava Henrique sobremaneira preocupado.  “O que poderia ser de minha vida sem minha personagem?” Ele não acreditava que pudesse  ainda ser um grande show. Sua audiência sumiu por entre os convites que não foram mais enviados. Tudo estava sobre a mesa: as fitas vermelhas e a cera derretida não mais selavam os convites. Tudo estava sem vida; nem mesmo o valor das coisas passadas existiam naqueles meios de contato externo. Assim como ele, tudo estava sem sentido.

Pôs a música, mas não acreditava que pudesse dar vida, nem mesmo à poeira. A música vibrava o ar; seus músculos rijos continuavam estático ;o olhar ainda perdido na lâmpada inquisidora.

A música repetia o refrão, repetia: “o amor vem rapidamente, o amor vem rapidamente, o que quer que você faça, você não pode deixar de se apaixonar”. A música repetia, repetia.

O telefone tocou. Olhou o visor do celular. Era ele. “É ele!”, olhava ainda incrédulo para a mensagem que entoava uma música parecida com a que tocava. Os sons misturados davam vida àquele momento de inconstância sentimental. Ainda que quisesse se desvencilhar de Jezebel, sentia que ele não gostaria do Henrique. Mais uma vez apenas queria o sexo, não importava se Jezebel sumisse apenas naquele momento.

Atendeu ao telefone. Apenas disse alô. “Eu queria te ver de novo”, disse o outro em tom amistoso. Henrique hesitou.  A princípio desejou que fosse sincero, que fosse menos sexo, e mais qualquer outra coisa. Qualquer coisa. A música repetia: o amor vem rapidamente, o amor vem rapidamente…

[…]

A porta se abriu sem a urgência dos desejos disparados a léu. Tudo parecia calculado para alguma coisa diferente de tudo. Henrique esperava-o sentado no sofá. Trocaram dois, ou três cumprimentos.

“Queria ver Jezebel”, disse o outro sem conseguir mirar os olhos de Henrique. Estava em pé diante do sofá onde sempre não souberam controlar os bons modos. Sentou-se estático ao lado dele e esperou. Henrique se levantou. Doía aquele pedido, mais do que a vergonha que sentira naquele dia. Mas como sentia que sua submissão era mais forte do que seu próprio orgulho, deixava-se entregar pelo desejo imperioso do sexo. Apenas o sexo.

Ligou o som. A música era sua preferida. Jezebel estava pronta. Dançou como nunca antes, embora chorando. Talvez sentisse que fosse a última vez, ou que sua performance fosse a mais desastrosa. Dançou como nunca antes. Mas apenas dançou. Sentou-se sobre as pernas. Chorou. Levantou-se e terminou o show.

“Queria que você tirasse a roupa”, pediu ainda tímido. Henrique despiu-se. Não havia máscara desta vez, nem uma cor sequer. Era sua pele apenas; nua. Nem calcinhas, nem cueca entre suas nádegas.  Despiu-se de Jezebel.

Ainda chorando, derrotou-se pela humilhação da perda completa.  Não importava mais o sexo.

Ele se levantou do sofá e ajoelhou diante de Henrique. Tentou enxugar suas lágrimas com as pontas dos dedos.

– Você nunca entendeu que eu sempre quis você como agora; nada mais- disse ainda sem encará-lo.

 E finalizou com um beijo em seu rosto:

– Eu nunca entendi o porquê de Jezebel.

 

 

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Entrega para Jezebel (parte IV)

Hoje talvez Jezebel não devesse sair de casa. Talvez não tivesse existido. – Quem era Jezebel? – ele se perguntava naquele instante.

Sobre a cama olhando fixamente a lâmpada  pensava como ela surgiu.

[…]

Nada dava certo, nem mesmo a ajuda do amigo mais bonito. Todas as atenções centravam no amigo bonito, alto, forte. Tentou o café; fez cadastro num site de relacionamentos; mas não sabia entrar no ritmo de mentiras dos outros. Tinha seu próprio ritmo: a casa; o programa favorito de televisão; os amigos. Mas nada disso satisfazia um sentimento interno de possuir  alguém em especial.

– Mas quem seria esse alguém especial a querer minha especialidade? – ele também se perguntava. – E qual seria minha especialidade? – ele se perguntava diante do espelho. E a resposta sempre tinha a ver com a ignorância do outros. Eles ignoravam seu enorme coração e suas domésticas.

Eles não o viam como alguma coisa perto dos desejos comuns. Era baixinho, quase uma bonequinha de porcelana. – Sua boquinha de princesa não parece comportar meu soldado de chumbo ­ –, comentou certa vez um de seus admiradores. – Princesa, eu? – perguntou-se acreditando numa espécie de resposta reveladora. Era tão frágil quanto essas coisinhas de porcelana. Poderia ser uma princesa; podia ser algo de contos de fada. Poderia ser apenas um papel no imaginário daqueles homens maiores, mais fortes. E se caísse nos braços de um príncipe, poderia viver a vida de borralheira  ao lado do homem especial.

Partiu, então, desta ideia idiota de tornar-se uma personagem. Na primeira vez usou a cueca separando sua nádegas, imitando uma lingerie feminina. Usou uma, duas, três vezes com o mesmo parceiro. Gostava de imitar um desejo de uma fêmea servindo seu macho num ritual de acasalamento; e este sentimento alcançava a maior parte desses homens  meio-homens.

Uma vez, duas vezes, três vezes como todos os outros e sempre havia espaço para a fêmea reprimida. Podia assim beijar profundamente sem ter que sentir a repulsa natural de seu cheiro de homem; assim disfarçava qualquer intenção do outro em decifrar aqueles toques delicados naquele corpinho de homem fragilizado. Mas Jezebel surgia como mulher poderosa; ela dominava a situação. Nada poderia suplantar a condução dos sentidos de Jezebel, pois ela sabia onde e quando fazer o prazer acontecer.

Jezebel usou o vestido vermelho pela primeira vez. Já não era mais a cueca metida entre as nádegas. Era uma bonequinha de boca macia e pele que imitava o cheiro de fêmea em cio. Sua atuação demorou até aquele pensamento fixo: – Quem era Jezebel? – suspirou para a luz.

 

Continua…

 

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Entrega para Jezebel

A porta estava entreaberta. Ele entrou como de costume. Nunca precisou de cerimônias, tampouco mascarava seu desejo por Henrique. De fato, nunca Jezebel havia aparecido para ele. Pois ele gostava de Henrique do jeito que ele era.

Mas quem o recebeu foi Jezebel.  A calcinha toda enfiada na bunda e os trejeitos femininos. Os olhos fechados tateando o espaço vazio do sofá.

– Mas o quê é isso?- perguntou ele meio envergonhado. Jezebel não sabia onde colocar seu personagem. Havia esquecido a fala. Certo pudor tomou-lhe de conta. Sentou sobre os joelhos e pôs-se a chorar

A porta bateu  e Jezebel estava sozinho.

[…]

Não havia consenso entre eles, pelo menos no que dizia a respeito sobre o amor. Não havia amor. Mesmo que Henrique não fosse Jezebel, o interesse do outro era apenas sexual. Eles se bastavam quando decidiam ficar um com outro. Geralmente não tinha diálogos; tudo perfeitamente solucionado pelo momento do gozo. E Jezebel, ou melhor, Henrique não enxergava o amor nos outros. O contrato tácito, assumido na premência do toques sôfregos do computador estatizava sempre que não deveria haver algo além do sexo. Estavam proibidos.

De fato, ele entrava sempre. Adquiriu certa liberdade por usucapião do corpo de Henrique, porque este se deixava usufruir. Não se preocupava com o seu poder de sedução.

Havia sido decepção a cena dele vestido de mulher? Será que era isso que ele desejava intimamente?  Decerto, os dois não sabiam.

Henrique pensava consigo mesmo. Sentado ainda sobre os joelhos, chorava para entender seu sofrimento. – Era o quê- se perguntava. Ajeitou a saia apertou o botão  e mirou o aparelho de DVD. A música começou. Levantou-se. Pensou na importância das palavras. “ Como são importantes as palavras!” E naquela noite dançou, rodopiou com sua saia e dançou  até a exaustão.

Continua

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O Primeiro Livro de Ficção

Estive ausente por algumas semanas. O projeto duas páginas por semana parece ter chegado ao fim.

O livro saiu. E o resultado foi uma leitura de teor fantástico na qual um escritor vê-se atormentado pelas suas personagens e sua própria imaginação. É , também, uma mensagem sobre  amor e sexo; numa medida quase que surreal.

Agora, estou fazendo propaganda e esperando um convite de alguma editora.

Espero que possa publicar em breve.

Conto com o apoio de todos.

DA IDENTIDADE

 

DA IDENTIDADE é o mais novo Livro de Poesias de Roberto Muniz DiasLivro de poesias Da Identidade

Livro de poesias: Da Identidade

 

A palavra dá poder aos pensamentos.

Acordo rei ou rainha, depende de meu humor.

 Quando ainda no casulo implemento a construção das asas.

Ainda não aberto aos desejos do Deus das armas e do fogo.

 Plebeu, talvez Hércules.

O momento acaba; sou apenas um poeta menor.

 A esperança do Colosso; do menino pequeno.

Palavras me dão poder.

Hoje sou um pouco fraco.

Daqui a um minuto sou uma identidade fragmentada.

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Entrega para Jezebel ( parte 2)

            O interfone tocou. Ainda estava enxugando seu rosto da última gozada. Inquietou-se. À porta, bateram. O interfone tocou novamente. Bateram na porta mais uma vez.

             Inquietou-se. Ele não sabia o que fazer. À porta deveria ser qualquer pessoa com mais intimidade, pois teve acesso sem muitas restrições. Já ao interfone, não sabia quem poderia ser. Ontem à noite havia passado horas na internet. Os toques eram sôfregos pela procura do prazer adequado. As limitações eram claras: nada de homens muito fraquinhos, que passassem as noites sob telhados. Nada destes homens de unhas pintadas e bem desenhas. Tudo menos isso. Adorava os homens maiores, bem grandes; grandes formas; grandes expectativas. Esses sim tinham seu apreço.

             As fotos pululavam no seu computador intensamente. Todos os tipos. Não tinha como selecioná-las. Seu apelo podia atingir qualquer um. A mensagem era explícita: “grandes prazeres com a pequena Jezebel”. Era assim que chamava a atenção dos homens. Todos eles. E, também por isso, vinham todos.

             “Não curto esses tipos pequeninos, com muito pouco a dar”. Revoltou-se. Com seus dedos pequenos dava vazão à velocidade de sua destreza vernacular. Ainda que percebesse a perda de tempo em respondê-lo, sempre se irritava com tais provocações. Até porque, causava-lhe certo interesse sexual por estes mais difíceis. Esses lhe proporcionavam mais prazer por conta de sua capacidade de convencê-los do contrário. Pensava consigo que em todo o homem havia aquele desejo mais recôndito de curiosidade; ou mesmo que esse desejo se mascarasse em superioridade, sempre um ou dois drinks revelariam a verdadeira fonte de prazer.

             Ele tentava, às vezes por horas, convencer de que poderia completar a necessidade de qualquer homem. Perdia seu tempo, mas não a paciência com dois ou três desses tipos. Conseguia manejar duas ou três personagens ao mesmo tempo. E nunca perdia o tempo dessas falas. Sempre estava pronto. Nenhuma solicitação ficava triste. Tinha sempre a fala e a foto para qualquer desejo. Não raro, perdia-se num jogo de voyeurismo. Mas não tinha fim, era somente aquele prazer do outro; não do seu em si. Mas daquela satisfação do rosto alheio em meio a rápidos toques; rápidas imagens; pensamentos sujos; performances solitárias; sedução virtual e ausência de sincero retorno.

             Mas o que lhe dava prazer era a pequena Jezebel. Ela, no entanto, nunca era virtual. Recusava-se a deixá-la ser virtual. Seu jogo de sedução e prazer era sempre real: luzes, cortinas e suave maquiagem. Ela nem sempre atuava. Mas quando atuava, deveria ter uma preparação.

             E o interfone não parava de tocar. À porta, desistiram de bater. Ouviu-se o barulho distante de passadas descendo as escadas. Ele deixou o interfone tocar mais uma vez. Correu para a pequena varanda da suíte e pode vislumbrar, pelo reflexo dos espelhos da fachada dos vizinhos, o corpo que se distanciava na imagem: era o soldadinho. Apaziguou a alma. Aquele viria, decerto, mais vezes, outras vezes.

             De um pulo alcançou o interfone:

            – Alô, pode subir, disse apressadamente. Pôs o fone no gancho, correu para o quarto. Jezebel precisava  de chita limpa.

 

                                                                                                                      …Continua

PANDEMONIUM

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PANDEMONIUM

 

Estou em falta com minha banda preferida.  Antes acompanhava tudo, desde os lançamentos dos  singles até a visita diária no site da dupla.

Mas hoje estou mais relapso, em que pese a produção ativa da banda. Não sou crítico musical, no entanto, deveria falar alguma coisa de YES.

Para falar a verdade, nem mesmo comprei o CD. Cheguei a ouvir 0 álbum  e gostei muito de LOVE and ETC e DID YOU SEE ME COMING. As duas têm uma boa melodia e mantem o padrão musical da banda. Mas, é somente isso que posso falar. Gosto muito deles. Ainda fazem parte da minha vida. Canto todos os dias; no carro, em casa. Eles nunca estarão distantes de minhas emoções mais límpidas e sinceras. Os PET SHOP BOYS me cercam, iluminam…

PANDEMONIUM representa o medo de CRIS em relação ao temor do inferno em que vivemos. Ainda mais para os Britâncios que sofrem ameaças em sua privacidade.

A desastrosa investigação da Scotland Yard ,que resultou no inexplicável e inimputável crime, transformou-se em música a  qual relata todo o pandemonium causado com a morte de Jean Charles.

Agora os PSB  se lançam em nova turnê que me anima pela capacidade que eles têm de se manterem vivos. Eu os amo. E sempre os acompanharei.

 

 

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Entrega para Jezebel

            Novamente o interfone tocou. Era mais um a interromper a respiração sofrida dele. Mas não havia cansaço que o desanimasse. Foi ao banheiro, fez um rápido gargarejo e atendeu o interfone.

 

            – Pode subir, disse com a voz suave e mais perfumada. A fita podia continuar a mesma, enfim, havia muitas outras três horas com o mesmo enredo.

 

            Ele abriu a porta. O outro adentrou sem muita cerimônia. Em dois passos o sofá já estava disponível. Não deveria haver muito esforço. E a fita não parava, os atores se posicionavam mais uma vez. Enquanto isso, a cerveja deveria estar gelada. Sempre a mão, e no espaço resumido da sala, tudo estava perto. Os desejos estavam sempre em prateleiras. Bastava-lhos escolher. Ele preferia o mais completo, talvez o mais fácil; aquele que pudesse satisfazer o tamanho sua vontade. Estava cansado das personagens sempre solicitadas; a fantasia alegórica de um outro eu. Aquela que surgia quando as cortinas se abriam, mas que o obrigavam sempre a fingir ainda mais seu pseudo-prazer.

 

             Escondia-o, liberava-o. A audiência aplaudia. Sua entrada tinha sido apoteótica, mas a maquiagem revelava a incerteza da fala. O que dizer?  Que estava no script de seu próprio prólogo? Ele não sabia; hesitou… O outro acompanhava atentamente o roteiro do filme. Não pestanejava. Ele ainda tentava retirar o último véu. Mesmo assim, o outro não se demovia de sua luxúria inicial. Seu sexo se avolumava, mas não representava o ânimo do sangue que Ele desejava. O outro apenas apreciava o gosto embriagante da cerveja na mão. E na outra, seu entusiasmo se avolumava ainda mais.

 

            Enquanto isso, sua realidade-mítica ia desaparecendo; sendo desmascarada. Não havia mais o que retirar. A pequena moça em seu vermelho Salomé – ou seria Jezebel?- personagem daquela peça, já não tinha mais o que fazer. Os efeitos da dança bem ornamentada de nada contribuíram para o apreço do convidado. Não o seduzia. Este se sentou, exigiu outra cerveja; exigiu o aumento do volume.

 

– Vem cá minha pequena! Deleite-se aos meus pés e satisfaça a sofreguidão de meu sexo pulsante, disse em tom de comando. Ele não pensou duas vezes. Por mais que sua audiência não reconhecesse seu talento, na verdade, o que o impulsionava era o gozo, o ápice, o aplauso final. Sua máscara já havia caído, sua roupa se encontrava toda no chão.

             O vento frio daquela noite foi aplacado pelo calor dos fluidos. Eles se anteciparam nas falas. Calaram-se no afago das palpitações de seus corações. Gozaram-se.  Ele no chão, o outro em sua alma, lavando-a com toda a lascívia que o aplauso lhe proporcionaria. O aplauso final, o último ato. Então, recolheu seus véus; recolheu sua vergonha. Ainda quis esconder sua alma lavada. Mas foi apenas um relance. Não lhe viu a satisfação. Abriu a porta, e sua audiência muda havia ido embora.

 

                                                                                                                           Continua…

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A pedra do sono de João na selvageria das rosas

            Adquiri uma antologia poética de João Cabral de Melo Neto. Trata-se de uma tentativa de encontrar o poeta por ele mesmo em suas poesias, uma vez que ele não fala muito de si: “Sempre evitei falar de mim, falar-me. Quis falar das coisas. Mas na seleção dessas coisas não haverá um falar de mim?”. Por essa razão a existência do Livro “O artista inconfessável”, pela editora Objetiva.

            Sua poesia é inventiva e falar de si é falar da natureza que o cerca. Sempre olhando o movimento dela como se parte de sua própria natureza. Andarilho que era sempre levava o olhar de Recife consigo. Suas visões misturavam os sabores de sóis diversos. Alucinações de ver Sevilha como um sertão. Era o poeta que advogava a o diálogo com a pedra, a vida pela pedra. E, de primeiro, neste contexto, lança seu primeiro livro: “Pedra do Sono”. Este livro me causou tanta felicidade.  Pois em minha pretensão de poeta menor – plagiando Bandeira -, coloco-me também aquém da poesia cabralina. Mas me coloco no caminho, quando descubro que seu primeiro livro tem como tema a natureza da pedra; a pedra do sono, a natureza em observação. Por isso, me resigno de qualquer pretensão maior, na simplicidade de meu primeiro livro a observar as flores que de alguma forma, também, dialogam comigo. Não à toa, “Rosas Selvagens” é observação da natureza em sua instância mais vívida encontrada nas perspectivas diversas como a mudança do curso dos rios, a fortaleza da imagem, nas folhas de jaqueira ou mesmo na maestria de um toureiro.

            João Cabral era assim. De início, na lira de seus Vinte anos, uma obra sem páginas numeradas que me enche de proporções ilimitadas, que me impulsiona no lapidar do uso da língua; no intricado jogo dos regionalismos e neologismos, enfim, na prolixidade de nossas almas.

            Por tudo isso, devo prosseguir comparando-me de início à obra do Grande João como em meu livro de estréia sem páginas a mil, no entanto carregado de esperanças.

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Direitos iguais

            Término de Curso; vontade de mudar o mundo e fazer valer o empenho de anos. Foi assim que me senti quando terminei meu curso de Direito. E queria fazer alguma coisa para mudar desde o início, quer dizer desde o término do Curso e início da carreia jurídica.

             Tudo começou pela monografia. Agora recordo bem. O meu projeto de pesquisa andou de mão em mão, e todos se espantavam pelo tema escolhido. Mas como era um projeto bem feito; bem estruturado, não interessava o assunto e sim a cópia. Mas cansei de ouvir algumas piadinhas dos colegas acadêmicos, futuros aplicadores do bom direito e reformuladores da dinâmica social.

             Toda essa história serve para emoldurar o assunto de fato a ser tratado aqui. Ontem em casa, ao ouvir jornal, mais uma vez, ouvi a notícia dos operadores de Direito acerca das uniões gays, dos direitos dos homossexuais. “Até quando”, pensei. A notícia não parecia nova, tampouco alvissareira.

            -Até quando? Reverberou por muitas vezes em minha mente. Desde a confecção da minha monografia, quando o tema ainda era completamente novo: o projeto de lei da, então Deputada Federal, Marta Suplicy acerca da união civil gay. Eu via naquele pequeno microcosmos, em que eu e mais dois colegas representávamos a estatística minoritária dos 10%; toda sorte de reações contrárias. Em que pese meu ótimo projeto a cabeça dos “novos operadores do direito” continua com o mesmo raciocínio tacanho.

            Mas, ontem, diante o apelo da Procuradora-Geral da República, Deborah Duprat, para o Supremo Tribunal Federal (STF) com um pedido para o reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo em todo o Brasil, deixou-me, mais uma vez esperançoso. Nesta ação de descumprimento de preceito legal, a procuradora pede que sejam dados aos homossexuais os mesmos direitos e deveres dos casais heterossexuais em uniões estáveis. Segundo a procuradora, boa entendedora do Direito, “O indivíduo heterossexual tem plena condição de formar a sua família, seguindo as suas inclinações afetivas e sexuais. Pode não apenas se casar, como também constituir a união estável, sob a proteção do Estado. Porém, ao homossexual, a mesma possibilidade é negada, sem qualquer justificativa aceitável”, argumentou Duprat. Na ação movida pela procuradora, pede-se uma liminar a favor da união entre parceiros do mesmo sexo e a realização de audiência pública.

            A bem da verdade, o tratamento igualitário é preceito constitucional. Não podemos mais suportar essas ideias homofóbicas carregadas de teor claramente preconceituoso. O mundo vive uma fase em que a diversidade dever ser tolerada em suas diversas matizes, seja cultural, racial ou sexual. A garantia de direitos iguais foi e é o fundamento de países democráticos, base das Constituições Promulgadas e que representam os direitos conquistados de todos os cidadãos.

             Era esse o discurso ao término do Curso: de lutar pelos mais fracos sem o pieguismo dos fervorosos defensores dos direitos humanos. Além, o desejo inicial era de mudança. Mudança para a perfeita sintonia das várias vozes existentes no coro nacional. Não somos somente héteros, somos heterogêneos.

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MARIPOSAS AO ENCONTRO DO CALOR DAS LAMPARINAS

 

MARIPOSAS AO ENCONTRO DO CALOR DAS LAMPARINAS 

é o mais novo livro de

 ROBERTO MUNIZ DIAS

 

 

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As reflexões são apenas motivos para reafirmar a condição humana. Pensar-se humano é muito mais do que apenas observar a natureza irracional das coisas. Muitas vezes, a ficção está além ou aquém da realidade e, por isso, nos esvaziamos de metáforas e fantasias. Mas a vida está na rua, está na crônica diária dos acontecimentos os quais se encadeiam no vagar das horas e dias. Cada imagem de dor, de desespero ou de alegria nos invade como realidade pura. Mariposas ao encontro do calor das Lamparinas é uma colcha de crochê alinhavada com histórias de miçangas crueis e fuxicos de cores reais. Aqui, acolá, a agulha fura o dedal e a história tem gosto de sangue, mas é apenas delírio das personagens. As mariposas se enfeitam e percorrem a órbita da alegria: quente e luminosa. Elas se esforçam em seus ensaios diários. Elas estão vestidas para a festa. Prontas para celebrar, em conjunto, o verdadeiro sentido da ciranda da vida.

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Agradecimentos

Gostaria de agredecer a todos pelo apoio traduzido em mensagens de e-mails, parabenizando minha incursão na via literária.  Agradeço cada palavra de sucesso e  de sorte enviada por meio de todas as formas de comunicação. Fico feliz em ser aceito e reconhecido.

Para aqueles que adquiriram o livro, peço perdão por quaisquer falhas. Estamos no processo  contínuo de revisão.  Ás vezes me dá uma vontade de mudar uma palavra aqui , outra acolá. Mas tenho que dar o acabamento de obra pronta. Ei-la no site.

Obrigado!

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ROSAS SELVAGENS

Rosas Selvagens é o primeiro Livro de poesias de Roberto Muniz Dias.

 

 

Rosas Selvagens

    

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Poesias Gay- Racionalistas
Por: ROBERTO MUNIZ DIAS

            A experiência da existência no mundo racional inspira o autor na busca pela compreensão de sua libido e de seu comportamtento. Os padrões são quebrados para garantir a existência. Mas os valores morais são mantidos como mantenedores da ordem interna. No entanto, a vontade é do grito, da música, da celebração. Os poemas de Rosas Selvagens são espinhentos, melódicos tristemente felizes. São reflexões de um homem gay aventurando a experiência do adulto, do casamento, das crises, do amor e da vida.

Obama proclaims the Lesbian, gay and transgender month!

A PROCLAMATION Forty years ago, patrons and supporters of the Stonewall Inn in New York City resisted police harassment that had become all too common for members of the lesbian, gay, bisexual, and transgender (LGBT) community. Out of this resistance, the LGBT rights movement in America was born. During LGBT Pride Month, we commemorate the events of June 1969 and commit to achieving equal justice under law for LGBT Americans. LGBT Americans have made, and continue to make, great and lasting contributions that continue to strengthen the fabric of American society. There are many well-respected LGBT leaders in all professional fields, including the arts and business communities. LGBT Americans also mobilized the Nation to respond to the domestic HIV/AIDS epidemic and have played a vital role in broadening this country’s response to the HIV pandemic. Due in no small part to the determination and dedication of the LGBT rights movement, more LGBT Americans are living their lives openly today than ever before. I am proud to be the first President to appoint openly LGBT candidates to Senate-confirmed positions in the first 100 days of an Administration. These individuals embody the best qualities we seek in public servants, and across my Administration — in both the White House and the Federal agencies — openly LGBT employees are doing their jobs with distinction and professionalism. The LGBT rights movement has achieved great progress, but there is more work to be done. LGBT youth should feel safe to learn without the fear of harassment, and LGBT families and seniors should be allowed to live their lives with dignity and respect. My Administration has partnered with the LGBT community to advance a wide range of initiatives. At the international level, I have joined efforts at the United Nations to decriminalize homosexuality around the world. Here at home, I continue to support measures to bring the full spectrum of equal rights to LGBT Americans. These measures include enhancing hate crimes laws, supporting civil unions and Federal rights for LGBT couples, outlawing discrimination in the workplace, ensuring adoption rights, and ending the existing “Don’t Ask, Don’t Tell” policy in a way that strengthens our Armed Forces and our national security. We must also commit ourselves to fighting the HIV/AIDS epidemic by both reducing the number of HIV infections and providing care and support services to people living with HIV/AIDS across the United States. These issues affect not only the LGBT community, but also our entire Nation. As long as the promise of equality for all remains unfulfilled, all Americans are affected. If we can work together to advance the principles upon which our Nation was founded, every American will benefit. During LGBT Pride Month, I call upon the LGBT community, the Congress, and the American people to work together to promote equal rights for all, regardless of sexual orientation or gender identity. NOW, THEREFORE, I, BARACK OBAMA, President of the United States of America, by virtue of the authority vested in me by the Constitution and laws of the United States, do hereby proclaim June 2009 as Lesbian, Gay, Bisexual, and Transgender Pride Month. I call upon the people of the United States to turn back discrimination and prejudice everywhere it exists. IN WITNESS WHEREOF, I have hereunto set my hand this first day of June, in the year of our Lord two thousand nine, and of the Independence of the United States of America the two hundred and thirty-third. BARACK OBAMA

Roberto Muniz Dias

Geleia Total

Dono de uma escrita sensível, intensa e envolvente, Roberto Muniz conquista cada vez mais leitores com suas obras que vão desde coletânea de contos aos romances. Ele nasceu em Teresina, radicado em Brasília, mas nunca perdeu o vínculo com a terra natal. Roberto é dramaturgo, romancista, contista, poeta, mestre em Literatura pela UnB (Universidade de Brasília), é formado em Direito e integra a Comissão de Tolerância e Diversidade Sexual da 93ª Subseção de Pinheiros da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional São Paulo. Já foi premiado pela Fundação Monsenhor Chaves com menção honrosa pela obra “Adeus Aleto” (2017). Publicou ainda “Um Buquê Improvisado” (2012); “O Príncipe – O Mocinho ou o Herói podem ser Gays”(2013); “Errorragia: contos, crônicas e inseguranças”(2013); ”Urânios”(2014); “A teia de Germano”(2014); “Uma cama quebrada” (2015); “Trilogia do Desejo” (2015). O escritor ganhou o prêmio Dalcídio Jurandir pelo texto teatral, inédito, “As divinas mãos de Adam”…

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Hello world!

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Antes amassávamos; apagávamos, mas agora os papeis viram registros

Ainda me persegue o mote do Livro anterior. Tenho que me desligar e inventar outro enredo. O rebento já anda sozinho.

Capítulo I

Solidão

 

            Talvez fosse isso o que ele quisesse, de se defrontar com o que ainda não sabia. Este plano novo de dar prosseguimento a mais um dia sem ao menos inventar a sua própria saída. Ele já havia escrito isto; denominava-a de tentativa de renomear mais um dia. Mas no fundo, era apenas solidão; o papel branco. Mesmo assim, pôs-se a escrever em toques sôfregos até a exaustão. E para isso, escolhia as noites caladas, não obrigatoriamente frias- e elas estavam estranhamente quentes.  Deteve-se na paisagem do quarto limpo, sem nada, senão seus livros; sua eterna dívida, a leitura compulsória de cada dia. Ele queria era entender seus personagens ou quem sabe, a si mesmo. Mas era uma confusão desejada. Olhava-se procurando um espelho para que pudesse dar vida a seu alter ego. Colocou na caderneta de anotações as características de seu protagonista. Ele hesitava nas manifestações espontâneas de suas ideias; às vezes se perdia na intuição de seus maneirismos e, outras vezes, permitia-se criar. Preferia a criação, embora todos dissessem que era sempre ele; uma espécie de catarse para sair da inércia onde colocara sua carreira. Era sempre assim. “Deixei nas mãos dos outros toda a idéia de mim mesmo; todos sempre souberam um pouco de mim, mesmo quando era apenas uma personagem.” Mas o que ele poderia fazer? Prostrou-se naquele sentimentalismo de que ainda poderia se ver livre das interpretações. Talvez parar de criar fosse a melhor escolha; talvez fosse o momento para as memórias. Todos queriam as memórias. Todos queriam saber do processo criativo, dos vinhos preferidos, dos amantes. Internamente, não pensava assim. Para ele ainda havia a possibilidade do último personagem, quem sabe um pouco parecido com a realidade que o cercava; verdadeiramente sentar para observar as coisas de forma menos parcial; não, não seria a biografia- ainda não se sentia objeto disso, de uma auto-avaliação; talvez fosse cedo-, a vida seria menos falseada. E essa história de alter ego o seduzia de certa forma; seria ele um semi-deus com todo o poder de sua metade histórica, de seus desejosos poderes, de poder matar os inimigos; de tornar fantástica a viagem de seu inconsciente criativo. Ele ainda se pegava em dúvidas.

           Dessa vez, seria um personagem feminino, assim ele deixariam de lado o fato de ter sempre gostado de homens mais velhos. Seria assim com o fato de sentir-se uma mulher, a verdadeira manifestação desse último desejo criativo? Seria assim sua última tentativa de reavivar valores que se perderam na sua busca do auto-conhecimento, velado nas insinuações de um proselitismo de sua casta? De início, não se preocupou com as premissas. Ele preferiu se perder naquele momento de puro desprendimento da alma, buscando no sentimento do desconhecido sua verdadeira arte; nessa imersão compulsória na mente da personagem, compondo sua vestimenta interna e sua essência quase real. Pegou sua caderneta de observações. Pois ia ser diferente dessa vez. Ia por em prática metodologia para tecer as linhas criadoras da última personagem; a psique; os gestos; os gostos. Queria desenhar-lhe os traços por meio de qualidades. Em linhas sobrepostas, qualidades funcionavam como corpo, braços, pernas, cor dos olhos, a tez e assim olhando o conjunto de adjetivos, ele teria a protagonista ideal. “Um nome…quero um nome…deve ter um nome. Não quero ‘ela’, a ‘mulher-do-vestido-cor-de-rosa, tampouco quero-a como ‘ a outra’; nem siglas, nem letras puras…quero um nome forte.” E os anotou, colando logo a frente dos nomes uma característica singular; um estudo etimológico; uma mania, uma tara… “Ou poderia ser algo híbrido, dotado de personalidade dúbia, intervindo nas coisas com dois olhares, submetendo-se as mais diversas opiniões.” Seria uma espécie de um autorretrato ideal.  Na atual conjuntura falar de homens e mulheres não seria algo novo. Todos já falaram dos dramas masculinos: a traição, a impotência; também havia falado da desilusão feminina, da violência, de sua fragilidade. De repente, lembrou-se de Orlando, o aristocrata e a dama ao mesmo tempo. Amassou a única folha anotada de seu bloco de observações. Amassou-a e jogou-a bem longe, querendo muito livrar-se dessa derrota momentânea.

            Pensou no cigarro. “ Onde estava o cigarro?”, pensou com uma tristeza arrancando-lhe a vaidade. Decerto, ainda havia vaidade nele. Todos os outros foram um espelho de seus belos olhos castanhos, quase sempre semi-cerrados; os cabelos agora grisalhos lhe davam outro charme que quis chamar de o prêmio pela prata- os segundos lugares, as menções honrosas. Ele estava pronto. Havia amadurecido desde então o último livro, e não tinha porque se vangloriar do título de antes. O brilho agora seria o dourado do reconhecimento. Mas sua tristeza aumentava na mesma medida que o vício o consumia.  Debruçou-se sobre a mesa abarrotada de livros.  Procurou por debaixo da pilha de livros. Levantou Joyce, Caio, Clarice, mas não os encontrou.  Olhou pro outro lado, mais uma pilha de livros. Tentou por detrás deles. Empurrou para abrir um espaço maior entre duas pilhas. Empurrou com força. Os livros caíram no chão. Ele quis se desesperar, mas não era apenas com a falta do enredo que não surgia, tinha a ver com sua compulsão; poderia ser sua falta de tato; tinha a ver também com vício. Talvez fosse o fato de estar mais velho, mais cansado, mais egoísta. “Quando foi que beijou pela última vez?”- perguntava-se por dentro. Um questionamento que parecia se amoldar com aquele sentimento do início, de tristeza absoluta. Mas por que estava sozinho?

Deixou-se levar pela queda, como se caísse igual aos livros. Deixou-se no chão. Encontrou o frio quase de perpétua felicidade naquela troca de calores com o piso. Quis entender aquele contentamento. Espreguiçou como se pudesse ser atingido por aquela sensação de completa absorção de suas energias. Ficou imóvel por alguns instantes como se atendesse a uma vontade exterior, sentindo-se mais largo, mais extenso. Ficou parado, tentando alcançar algo que ainda não sabia do que se tratava.  Deixou-se ficar inerte. Talvez seu desejo fosse ficar parado, sem pensamentos de escolha, sem vontades externas apenas na escuta da deflagração de suas juntas, na preguiça de seus sentidos. Esticou-se até não poder ouvir mais nada. Silêncio. Mas, por um instante, sentiu a pressão sutil do sangue percorrendo sua nuca, pertinho de suas sobrancelhas; sentiu um leve tremor em seus olhos.  Podia ouvir o fluxo rápido do sangue na pequena veia. Apurou os sentidos mais uma vez para perceber em qual intervalo aquele fenômeno se repetia. Continuou parado e o fluxo não parecia se repetir. Levantou silenciosamente seu braço esquerdo e tentou localizar com a ponta do dedo a região de saliente movimento. Percorreu por debaixo dos olhos até atingir a parte superior da sobrancelha. Não consegui sentir nada. Repetiu o movimento agora se demorando numa região um pouco acima do olho esquerdo. Então sentiu aquele movimento ondular por sobre a pele; pressionou mais forte. Podia sentir a sutil velocidade de seu movimento sanguíneo. Era intenso, repetia-se de quando em quando. Não quis mais mensurar, e seu dedo ficara horas a percorrer aquela pequena área de seu rosto. Demorou-se mais. Tentou mensurar mais uma vez o ritmo daquela intensidade de raciocínio- pois devia ser sua atividade cerebral exigindo mais sangue. No entanto, com passar dos minutos, a pressão começou a diminuir. Seu dedo já não sentia mais aquele volume de sangue correndo por calibre tão pequeno. Respirou fundo para novamente deixar seu corpo em silêncio, para que pudesse sentir suas pequenas veias, o sangue, o fluxo de ideias. Parou mais uma vez de pensar. Esperou que o fluxo retornasse. Contou mentalmente, e nada parecia se manifestar naquele momento de puro silêncio. Então fechou os olhos, relaxando agora todo seu corpo, reduzindo seu tamanho a dimensão normal dele mesmo; sem o medo de ficar pequeno; sem a vontade de voltar à poltrona. E assim, o corpo parecia se encher de moderada leveza. Sentiu-se leve com a possibilidade de fazer nada, apenas se dedicar aquele instante em que sua produção parecia descansar finalmente. Ainda de olhos fechados, desistiu de se ouvir; de tentar entender seu corpo e suas exigências. Ali, parecia que se tinha rendido para alguma obra diferente; talvez uma obra maior. Parou com tudo com o intuito de entender seu silêncio. Por que aquele silêncio o perturbava? Era como se estivesse perdido. Não havia aqueles que poderiam dar um sentido àquilo tudo. O amigo se limitava a não considerar as características principais; interessava-lhe apenas o volume final, as páginas. Que sentasse feito Wolf até que o cigarro acabasse sua concentração. E o cigarro acabou. “Onde está meu cigarro?”, perguntava-se ainda envolto em misterioso silêncio. Procurava pelo amigo. “De qual enredo você está falando?”, novamente se perguntava. Mas não obtinha as respostas prontamente; talvez se esquecera de que as críticas vinham agora por cartas, por mensagens não vívidas. E sempre fora assim, mas parece que o silêncio desencadeou essa nostálgica lembrança de quando podia discutir pessoalmente com seu amigo. Onde está o cigarro? “Aqui, trouxe mais uma caixa daqueles sem filtro dos quais você mais gosta”, ele falava sempre com a prontidão e solicitude de uma secretária. Mas ali, deitado no chão de sua sala muda, apenas restava seu corpo flutuando sobre seu derradeiro leito…

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