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The Hangover, Se beber não case…

foto2Depois de Brüno, não pensei que houvesse filme mais politicamente incorreto. Mas acabei me deparando com “Se beber, não case”, (The Hangover), dirigido por Todd Phillips. E ainda me surpreendo com as críticas a elogiar essa comédia escatológica. O filme inicia, tentando inovar na narrativa – utilizando um clichê já não tão original-, contando a estória de trás para frente.

No início, percebe-se certa coerência com as sinopses do filme que houvera lido: os amigos vão para Lãs Vegas para curtir a despedida de solteiro do amigo Doug. Nada tão ingênuo e mais autêntico do que celebrar a solteirice, vez que o casamento não mais permitirá esse tipo de comportamento. Se tal é o pensamento de que o casamento aprisiona, por que as pessoas casam? Mas o filme, de longe, parece preocupar-se com tais assuntos. Ao contrário, parece existir certo ritual falocêntrico e machista de os homens se comportarem como irracionais antes da grande festa. Até mesmo o sogro, que deveria se preocupar com o futuro genro inicia – ou perpetua esse ritual -, oferecendo seu melhor carro para que seu genro aproveitasse o momento da transição. A cena é patética; como se houvesse um grau evolutivo na confecção do grande homem que surgiria depois da grande farra. E para arrematar, o pai da noiva alerta que tudo que acontecerá em Vegas, ficará em Vegas, a não ser os herpes. É cômico, mas ridículo.

Não irei perder meu tempo em recapitular as pérolas desse filme. Para começar vou falar do título, que mais soaria com a temática do filme se intitulasse: Se beber boa noite cinderela; não faça nada, nem case. Pode parecer absurdo, mas não se trata de bêbedos que não sabiam o que faziam; de fato, eles se envenenaram com uma espécie de droga conhecida como boa noite cinderela: Rophynol, também chamada “rape drugs” e que, na realidade, potencializou a embriaguês. O resultado ficamos sabendo só no final. Enquanto empreendem uma busca na tentativa de entender o que haviam feito, as atrocidades começam a ser reveladas. O idiota do cunhado- um protótipo glutão saído de uma orgia woodstoquiana-, um pouco nerd, um pouco maluco, é o culpado de toda a desventura do grupo, pois comprara o Rophynol em vez de ecstasy. Essa foi a mistura explosiva para as loucuras acontecidas. Este tipo parece o estereótipo de um autêntico norte-americano incrustado na sua couraça de alienação e ignorância. O que nos diverte nele é a própria imagem de um país – e por que não uma sociedade globalizada- em plena decadência de valores e costumes.

 E por falar em valores, moral; é preciso falar do metido a galã que, por incrível que pareça, é professor de ensino fundamental. É um absurdo a cena na qual o tal professor- não vou saber de nomes porque são atores desconhecidos- engana seus alunos solicitando uma verba para uma espécie de gincana, ou algo de cunho cultural- não recordo. Mas de fato, o dinheiro dado pelos alunos é usado para financiar sua viagem para Lãs Vegas. Esta cena é deprimente e representa a corrupção e falta de ética que perpassa toda a sociedade americana. Numa cena posterior, a corrupção também afeta os médicos da rede pública ou privada, não sei ao certo; completamente subornáveis e igualmente antiéticos. E assim a película que apela para um humor sem descrição; nem ácido, tampouco simpático; difícil de enquadrar dentro de meus parâmetros. Talvez sê um quê de escatológico ou sádico, porquanto cenas gratuitas de violência e desrespeito povoam todas as passagens do filme. Existe uma na qual a “guarda” temporária de uma criança, que aparece no quarto da orgia- o que fico pensando, será que a criança, no filme, chegou a ver as cenas de sexo?-, fica à cargo do maluquete irmão da noiva. Numa outra cena, o cunhado, saído de woodstock,  simula, com a mãozinha do bebê,  uma masturbação; cena esta que se repete duas vezes. Enfim, o filme parece uma grande brincadeira de mau gosto.

No final, as coisas voltam à cena inicial e eles – os exemplos de masculinidade e moldes de toda a cultura falocêntrica americana-, num exemplo quase irreconhecível de inteligência, relembram que deixaram o amigo- o noivo- no telhado do hotel em que se hospedaram.

Não posso esquecer-me da participação especialíssima de Mike Tyson, o que deu um brilho de inteligência e humor impagáveis. Será que estou sendo irônico?

Juntamente com os créditos finais, eles revelam toda a sorte de coisas que fizeram por meio de uma câmera que registrou todas as peripécias do grupo. E infelizmente, quem lê essa crítica terá que ver o ensaio fotográfico das bizarrices.

Fica no ar a mensagem de que devemos, de vez em quando, ser um pouco malucos e deixar que, de alguma forma, as coisas voltem à normalidade sem o peso e a exigência de posturas sérias diante de nossas próprias vidas. Ah! Se beber não vá ao cinema; ou melhor, se beber, vá ao cinema assistir The Hangover.

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