Entrega para Jezebel (parte IV)
Hoje talvez Jezebel não devesse sair de casa. Talvez não tivesse existido. – Quem era Jezebel? – ele se perguntava naquele instante.
Sobre a cama olhando fixamente a lâmpada pensava como ela surgiu.
[…]
Nada dava certo, nem mesmo a ajuda do amigo mais bonito. Todas as atenções centravam no amigo bonito, alto, forte. Tentou o café; fez cadastro num site de relacionamentos; mas não sabia entrar no ritmo de mentiras dos outros. Tinha seu próprio ritmo: a casa; o programa favorito de televisão; os amigos. Mas nada disso satisfazia um sentimento interno de possuir alguém em especial.
– Mas quem seria esse alguém especial a querer minha especialidade? – ele também se perguntava. – E qual seria minha especialidade? – ele se perguntava diante do espelho. E a resposta sempre tinha a ver com a ignorância do outros. Eles ignoravam seu enorme coração e suas domésticas.
Eles não o viam como alguma coisa perto dos desejos comuns. Era baixinho, quase uma bonequinha de porcelana. – Sua boquinha de princesa não parece comportar meu soldado de chumbo –, comentou certa vez um de seus admiradores. – Princesa, eu? – perguntou-se acreditando numa espécie de resposta reveladora. Era tão frágil quanto essas coisinhas de porcelana. Poderia ser uma princesa; podia ser algo de contos de fada. Poderia ser apenas um papel no imaginário daqueles homens maiores, mais fortes. E se caísse nos braços de um príncipe, poderia viver a vida de borralheira ao lado do homem especial.
Partiu, então, desta ideia idiota de tornar-se uma personagem. Na primeira vez usou a cueca separando sua nádegas, imitando uma lingerie feminina. Usou uma, duas, três vezes com o mesmo parceiro. Gostava de imitar um desejo de uma fêmea servindo seu macho num ritual de acasalamento; e este sentimento alcançava a maior parte desses homens meio-homens.
Uma vez, duas vezes, três vezes como todos os outros e sempre havia espaço para a fêmea reprimida. Podia assim beijar profundamente sem ter que sentir a repulsa natural de seu cheiro de homem; assim disfarçava qualquer intenção do outro em decifrar aqueles toques delicados naquele corpinho de homem fragilizado. Mas Jezebel surgia como mulher poderosa; ela dominava a situação. Nada poderia suplantar a condução dos sentidos de Jezebel, pois ela sabia onde e quando fazer o prazer acontecer.
Jezebel usou o vestido vermelho pela primeira vez. Já não era mais a cueca metida entre as nádegas. Era uma bonequinha de boca macia e pele que imitava o cheiro de fêmea em cio. Sua atuação demorou até aquele pensamento fixo: – Quem era Jezebel? – suspirou para a luz.
Continua…
Boa noite. Sou do jornal Correio Braziliense e estou fazendo uma matéria sobre o site Clube de Autores. Vi um livro de sua autoria no site e gostaria de te entrevistar sobre a obra e o uso de um site da internet para publicá-la.
Poderia te entrevistar? A matéria sairia na página de Tecnologia do jornal.
Desde já, obrigada pela atenção.
Att.,
Thais Luna
Mundo
Correio Braziliense
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